É preciso secar as raízes ao terror
Enquanto se financiar sem limites, o terrorismo continuará a matar. É preciso secar-lhe as raízes.
Indignação, condenação, condolências, solidariedade: tal como nos atentados de Paris, volta a registar-se uma onda de quase unanimidade contra os actos terroristas que agora atingiram o coração da Bélgica – que é também, simbolicamente, o coração da União Europeia. Mas este ciclo, onde a brutalidade do terror e a dor das vítimas alternam com manifestações de solidariedade internacional e com um reforço da segurança nos países atingidos, pode repetir-se vezes sem conta se não se for mais fundo no ataque às origens de tal calamidade. A começar por um ponto de que se vai falando mas que raramente se enfrenta com seriedade e eficácia: as fontes de financiamento dos grupos terroristas, envoltas numa teia que move demasiados interesses e que tem subsistido praticamente incólume, enquanto forças policiais e militares vão neutralizando alguns “ramos” sem conseguirem ir à “raiz”.
É bom recordar que os atentados de Bruxelas ocorrem escassos dias após a prisão (em Bruxelas, precisamente) de Salah Abdeslam, um dos implicados nos atentados de Paris; e também da divulgação, com algum furor mediático, de listas com milhares de nomes de supostos militantes do EI; ou seja, duas aparentes derrotas dos “soldados do Califado”, os mesmos que vieram agora reivindicar os odiosos atentados em Bruxelas.
E é bom recordar também que, por estes dias, outros atentados terroristas ocorreram, na Turquia (Ancara e Istambul) e na Costa do Marfim, sempre em lugares públicos e contra civis.
Ora, ao mesmo tempo que na Síria as bombas russas e americanas terão provocado estragos nos domínios do EI, a propagação de atentados na Europa e fora dela terá como objectivos imediatos, conforme explicava no Guardian Jason Burke, especialista em islamismo radical, “mostrar que ainda podem aterrorizar, mobilizar e polarizar com recurso à violência. Isto não se trata tanto de vingança, mas simplesmente demonstrar uma habilidade ininterrupta.” Mostrar que não estão acabados. E como serão uma rede implantada com alguma segurança, não franco-atiradores que viajariam com os refugiados (e esta tese tem vindo a ser defendida com intuitos xenófobos), terão mais facilidade em agir. Nos campos de refugiados, pelo contrário, tal como nos meios árabes que não alinham com os terroristas (mas que correm, mais uma vez, irracionalmente, o risco de serem confundidos com eles), as reacções são de indignação. O cartaz empunhado horas depois dos ataques por um jovem filho de refugiados, entre os muitos que se encontram barrados na fronteira da Grécia com a Macedónia, expressa esse sentimento numa só frase: “Sorry for Brussels”. Também lamentamos a sua sorte, e a de outros tantos que ali procuram a vida e não o sangue, mas no torvelinho de emoções que tudo mistura e confunde, os inocentes continuam a pagar pelos culpados. E a hidra terrorista continuará a matar, enquanto lhe permitirem alimentar-se na sombra. Não basta, por isso, chorar as vítimas a cada novo atentado. Em vez de blindar fronteiras ou limitar cada vez mais as liberdades, é preciso agir para que o terror não tenha uma só mão conivente com os seus crimes. Não será fácil, porque há quem lucre com isso, mas é indispensável para respirarmos em paz.