Figuras públicas passam 24 dias no aeroporto de Lisboa para ajudar crianças doentes

Projecto Amélia vai estar na Birmânia para transportar crianças com cancro ao hospital. Diogo Infante dá voz a esta campanha.

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Campanha de 30 de Março a 23 de Abril visa angariar 45 mil euros Daniel Rocha

Há quase um ano, Fernando Pinho, programador cultural e encenador, natural de São João da Madeira, radicado em Londres desde 2007, apresentava ao mundo o Projecto Amélia, Organização Não Governamental (ONG) que baptizou com o nome da filha, para oferecer voos a crianças com cancro, transportar equipas médicas a zonas atingidas por desastres, disponibilizar um avião capaz de aterrar em terra batida. Para divulgar o projecto, propôs-se, nessa altura, a viver 60 dias em 60 aeroportos – uma iniciativa radical que não cumpriu até ao fim, por determinação do médico e do corpo, que cedeu face ao esforço. Nesse ano, angariou cerca de 17 mil euros e ergueu uma estrutura capaz de organizar voos humanitários. Cerca de 75% dos apoiantes do projecto são portugueses.

A missão está em marcha e Fernando Pinho volta ao aeroporto de Lisboa com a campanha "24 horas 24 dias" em que 24 figuras públicas, uma por dia, se dispõem a chamar a atenção do próximo objectivo do Projecto Amélia e da World Child Cancer (WCC): ajudar 2700 crianças com cancro da Birmânia a chegar até ao único hospital que as pode tratar. A campanha começa a 30 de Março e termina a 23 de Abril e o objectivo é angariar 45 mil euros. Sofia Escobar, Fernando Alvim, Sofia Nicholson, José Fidalgo e Bibá Pitta são as figuras públicas que já aceitaram o desafio e que estarão no aeroporto de Lisboa. O actor Diogo Infante dá voz à campanha num vídeo com imagens que mostram a dura realidade de crianças e pais que não têm meios para aceder a cuidados médicos.

“Por razões económicas, estas crianças nunca são tratadas quando tudo o que precisam é quem lhes ofereça o transporte. Apenas 10% das crianças diagnosticadas conseguem chegar ao hospital. As restantes morrem sem nunca terem recebido tratamento”, revela Fernando Pinho. A ideia é oferecer transporte aéreo a crianças doentes que vivem a mais de quatro horas do hospital e transporte terrestre às que moram mais perto. “Temos crianças que precisam de viajar durante quatro dias. Com este projecto, a viagem demora 90 minutos e será gratuita”. Uma viagem de avião para uma criança e acompanhante até ao Hospital Pediátrico de Yangon custa cerca de 90 euros. “Quanto mais conseguirmos angariar, mais crianças serão beneficiadas”.

Fernando Pinho está no terreno, fala com famílias e médicos, percebe o que se passa. “Em 2015, ajudámos a WCC a transportar equipas médicas para a Birmânia, mas quando lá chegámos percebemos que não chega desenvolver a qualidade dos serviços do hospital, é preciso transportar crianças até ao hospital”, conta. E porquê a Birmânia? O Projecto Amélia depende exclusivamente de voluntários, a maioria é do sexo feminino com idades entre os 24 e os 45 anos, e os recursos são limitados. “Por isso, queremos estar onde a nossa ajuda tem um maior impacto”, responde. “A Birmânia é um país onde poucos dólares realmente salvam uma vida. Apercebi-me dessa realidade pessoalmente. Cheguei a pôr na mão de uma mãe 50 dólares para que ela pudesse trazer o filho mais novo para o hospital. Ambos os filhos têm cancro mas apenas um estava a ser tratado. O Projecto Amélia estará onde puder salvar vidas”, acrescenta. O WCC já lançou o apelo de ajudar em outros países, como Gana, Filipinas, Bangladesh, mas, por enquanto, os recursos disponíveis não lhe permitem aceitar.

O projecto começou com duas certezas na cabeça do encenador português: a vontade de ajudar e haver muitas pessoas a precisar de apoio. “Cada conquista tem sido saboreada como uma grande vitória – que é. Mas há duas que me merecem destaque: a notoriedade e a reputação do Projecto Amélia, traduzidas na cobertura mediática e na cooperação com uma instituição de referência como a WCC; e o facto de, ao fim de um ano, já termos montado uma estrutura capaz de operar voos humanitários”.

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