Rússia e EUA propõem trégua na Síria a partir do fim-de-semana
Acordo prevê o fim dos ataques russos a grupos da oposição ao regime e tem uma duração inicial de duas semanas.
Um dia depois de atentados reivindicados pelo autodesignado Estado Islâmico terem feito mais de 150 mortos em duas cidades da Síria, russos e norte-americanos chegaram a acordo para a cessação de hostilidades no país. Segundo um comunicado divulgado em Washington, as partes em conflito terão de aceitar os termos da trégua até ao meio dia de sexta-feira e as armas deverão calar-se a partir da meia-noite.
Como previsto num texto assinado a 12 de Fevereiro em Munique pelos membros do Grupo Internacional de Apoio à Síria, excluído desta trégua provisória fica o combate a organizações classificadas pela ONU como terroristas, nomeadamente o Estado Islâmico e a Frente al-Nusra (considerada o ramo da Al-Qaeda na Síria). Mas Moscovo aceita que os seus aviões (e os do regime) deixem de bombardear toda a oposição armada – até agora, a pretexto do combate ao terrorismo, a aviação russa tem atacado diferentes grupos.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, saudou este acordo como “um sinal de esperança para a população síria”, após quase cinco anos de violência, com centenas de milhares de mortos e mais de 11 milhões de refugiados e deslocados internos. Apelando a “todas as partes envolvidas para a respeitar”, Ban admitiu que “está muito trabalho por fazer para aplicar” uma trégua.
De acordo com Khaled Khoja, presidente da Coligação Nacional Síria, um dos grupos da oposição política no exílio, a trégua terá um período inicial de duas semanas “mas pode ser alargada indefinidamente se as partes se comprometerem a isso”. Este grupo integra o Alto Comité de Negociações dos opositores a Bashar al-Assad, apoiado pela Arábia Saudita.
O comunicado conjunto da Rússia e dos EUA, que presidem ao Grupo Internacional de Apoio à Síria, explica que os grupos armados envolvidos no conflito “terão de indicar que aceitam os termos” da trégua. Os dois países vão trabalhar juntos para “delinearem o território onde os diferentes grupos que indicarem aceitar a cessação de hostilidades estão activos”. Ao mesmo tempo, prevê-se a criação de uma linha de emergência e de um grupo de trabalho para monitorizar violações do armistício.
“Se os envolvidos aderirem e se for posta em prática, esta cessação não só vai conduzir a um declínio da violência como permitir que continue a ser alargada a distribuição de ajuda humanitária urgente às áreas sob cerco”, comentou o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.
Inicialmente previa-se a “cessação nacional das hostilidades” para a última sexta-feira, dia 19. Mas nem o regime pôs fim às ofensivas contra a oposição, com o apoio da aviação russa, nem os grupos rebeldes baixaram as armas. O único sinal de progresso aconteceu na quarta-feira, quando cem camiões carregados com alimentos e medicamentos saíram de Damasco em direcção a cinco localidades cercadas.
Sábado, numa entrevista ao jornal El País, o líder sírio, Assad, disse estar pronto para um cessar-fogo, com a condição de que os “terroristas” (termo com que o ditador descreve todos os grupos que o confrontam) não o usem para se rearmar e conquistar terreno. Mas nas últimas semanas, Assad também se disse “decidido a tentar reconquistar a totalidade do território sírio”.
Entretanto, e cumprindo o calendário institucional do país, o Presidente convocou eleições legislativas para o próximo dia 13 de Abril. O parlamento é reeleito a cada quatro anos, e o último escrutínio aconteceu em 2012.
Mais enfraquecida está a oposição, encurralada entre os jihadistas e as ofensivas de Damasco, que conta desde 30 de Setembro com bombardeamentos russos diários. Desde o início do mês que estes se têm concentrado na região de Alepo, capital da província com o mesmo nome e maior cidade síria, onde o regime ganhou bastante terreno aos rebeldes.