Estado Islâmico ataca com intensidade uma Síria à espera do cessar-fogo

Barragem de atentados em Homs e Damasco mata mais de 140 pessoas em bairros xiitas sob o controlo do regime. Prosseguem contactos diplomáticos para se chegar a uma "cessação de hostilidades".

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Atentado em Homs, que está integralmente nas mãos do Exército de Assad AFP

Pelo menos 140 pessoas foram mortas domingo em múltiplos atentados contra cidades sírias sob o controlo do regime do Presidente Bashar al-Assad: quatro explosões em Damasco mataram 83 pessoas, segundo as estimativas oficiais da manhã de segunda-feira, e dois carros bomba em Homs vitimaram outras 57. Ambos os ataques atingiram zonas de maioria xiita e foram reivindicados pelo grupo Estado Islâmico.  

Damasco pode até ter sofrido o mais sangrento atentado terrorista desde que a guerra civil começou, há quase cinco anos, caso se confirme a estimativa de 120 mortos anunciada na tarde de segunda-feira pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que está em contacto com uma rede de opositores no terreno. A capital sofreu quatro explosões no seu importante subúrbio xiita, Sayyidah Zaynab, uma cidade de 130 mil habitantes na zona Sul da capital. 

Esta zona já fora atingida há menos de um mês por um outro atentado, também reivindicado pelo Estado Islâmico. Nesse ataque morreram 62 pessoas. Aconteceu perto da mesquita que alberga o mausoléu de Sayyidah Zaynab, neta de Maomé e filha do imã Ali, considerado pelo xiismo como o legítimo sucessor do profeta. É o santuário xiita mais venerado no país e a razão pela qual, no início do conflito, o Exército sírio recebeu centenas de combatentes vindos do Irão, do Líbano e do Afeganistão, que permitiram controlar o subúrbio e as suas redondezas, formando assim as bases para o apoio militar estrangeiro que acabou por resgatar o regime de Bashar al-Assad. 

Também Homs sofreu duas explosões quase simultâneas de veículos armadilhados num bairro em que a maioria dos habitantes pertence ao ramo xiita: neste caso são alauitas, a confissão de Bashar al-Assad e a população que mais apoia o Presidente sírio . A cidade foi o primeiro bastião da oposição, que a abandonou no final do último ano depois de um acordo de cessar-fogo com o regime. Como acontece com Sayyidah Zaynab, em Damasco, também este bairro alauita de Homs foi alvo há menos de um mês de um outro mortífero ataque do Estado Islâmico: morreram 22 pessoas. 

Os grandes atentados de domingo coincidem com o "acordo provisório" anunciado domingo pelos chefes da diplomacia da Rússia e Estados Unidos sobre as condições para um cessar-fogo na Síria e revelam quais poderão ser os seus limites. Esta "cessação de hostilidades" estava inicialmente marcada para sexta-feira, mas poucos acreditam que entre em vigor até que as tropas do regime completem o cerco a Alepo, no Norte do país, ou até controlarem todos os postos fronteiriços dos rebeldes e islamistas junto à fronteira com a Turquia, de onde recebem importantes mantimentos. 

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, antecipou que as "cessações de hostilidades" – termo que se tornou sinónimo da prudência com que ambos os lados do conflito encaram a possibilidade real de um cessar-fogo – mal os presidentes Barack Obama e Vladimir Putin acertem os termos da sua aplicação, algo que pode acontecer nos próximos dias. Rebeldes apoiados pela Arábia Saudita começaram esta segunda-feira um encontro em Riad, presumivelmente antecipando um cenário de cessar-fogo. 

O Estado Islâmico, tal como o poderoso satélite da Al-Qaeda, a Frente al-Nusra, não fará parte de um cenário de "cessações de hostilidades" – o que pode permitir a caças russos e Exército sírio continuarem em combate no Norte do país, onde acumulam vitórias importantes, já que muitos rebeldes nessa região se aliaram com a al-Nusra e outros islamistas. Nesta segunda-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo condenou os múltiplos atentados em Homs e Damasco, classificando-os como "crimes atrozes de extremistas" destinados a "subverter as tentativas" de um acordo político na Síria. 

As explosões mortíferas de domingo surgem apenas um dia depois de Bashar al-Assad ter convidado os cerca de quatro milhões de refugiados sírios a regressar ao país. O Presidente sírio promete que os que o fizerem não serão alvo de represálias governamentais. "Queremos que as pessoas regressem à Síria", disse Assad ao diário El País, numa entrevista publicada no sábado. 

 

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