Detroit, raça, motins de 1967 – o próximo filme de Kathryn Bigelow
A única realizadora com um Óscar junta-se novamente a Mark Boal, desta feita para filmar a tensão racial por trás de um dos mais sangrentos motins da história dos EUA.
Kathryn Bigelow volta a fazer dupla com o argumentista com quem venceu o Óscar pela realização de Estado de Guerra – o único dado a uma mulher em toda a história de 89 anos dos prémios da Academia – no seu novo projecto: um filme sobre um crime real com a cidade de Detroit como pano de fundo na década de 1960. O tema do racismo será central no filme.
Bigelow e Mark Boal trabalharam juntos em Estado de Guerra e 00:30 A Hora Negra e o projecto, ainda sem título, conta então com argumento original de Boal – que também recebeu o óscar de Melhor Argumento Original por Estado de Guerra, um dos seis que o filme arrematou na cerimónia de 2010.
Será passado no Verão de 1967, durante os motins que abalaram a cidade de Detroit. De acordo com a Variety, o filme ainda não está associado a qualquer estúdio e tem como data prevista de estreia 2017, quando se assinalam os 50 anos dos motins.
O tumulto social, também conhecido como o 12th Street Riot, decorreu durante cinco dias na cidade conhecida pela importante presença de fábricas automóveis, mas que é também palco de tensões raciais e problemas de exclusão da população afro-americana. Uma rusga policial a um bar clandestino nessa rua, nas instalações de uma associação cívica, acabou por desencadear uma luta com as dezenas de afro-americanos que estavam reunidos no seu interior. A sua detenção foi feita sob o olhar de dezenas de transeuntes que se começaram a reunir na rua, e começaram os actos violentos entre polícia e manifestantes, bem como pilhagens. O incidente transformar-se-ia num motim de grande gravidade – um dos mais sangrentos da história dos EUA, agravado pela intervenção da Guarda Civil e do Exército e resultando num banho de sangue com 43 mortes e mais de mil feridos e de dois mil edifícios afectados ou mesmo destruídos.
O projecto do filme, nas mãos da produtora Annapurna, resulta de uma pesquisa de mais de um ano de Boal e não há ainda mais detalhes sobre o seu elenco. O tema do próximo filme de Bigelow surge numa altura em que, depois de anos de debate público sobre não só raça e oportunidade nos EUA, mas também sobre a falta de diversidade na representação da população na poderosa indústria de Hollywood, os Óscares de 2016 se tornaram num símbolo dos protestos contra o racismo. A nomeação exclusiva de actores brancos e a inexistência de qualquer afroamericano nas principais categorias da cerimónia mais importante e com maior visibilidade para a indústria levou a que figuras como Will Smith ou Spike Lee anunciassem que não vão estar presentes na entrega dos Óscares a 28 de Fevereiro.