Estado Islâmico raptou 400 pessoas em Deir-Ezzor após massacre

Jihadistas lançaram ofensiva contra os últimos bastiões controlados por Assad em província da Síria produtora de petróleo. Em Deir-Ezzo poderão ter sido executadas centenas de pessoas e ronda também o fantasma da fome.

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A cidade de Deir Ezzor, numa foto de 2013 AHMAD ABOUD/AFP

Pelo menos 400 civis foram raptados pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI) em Deir-Ezzor, a sétima maior cidade da Síria, no Leste do país, depois de um comando jihadista ter entrado nos arredores da cidade no sábado, até agora controlada por forças pró-regime do Presidente Bashar al-Assad. A agência de notícias oficial síria também refere a execução de cerca de 300 pessoas, mas esté número não foi confirmado por outras fontes. 

É o Observatório Sírio dos Direitos do Homem, uma organização com sede em Londres mas com uma rede de observadores no terreno, que avança com a informação dos raptos. Aconteceram em Al-Bgheliyeh, um subúrbio a Norte de Deir Ezzor, capital de uma província de interesse estratégico, por ser uma das produtoras de petróleo, e que é em grande parte controlada pelo EI, embora resistam alguns bastiões controladas por forças de Assad.

Os raptados – “entre os quais se encontram mulheres e crianças, e familiares de combatentes pró-regime”, diz a organização – são todos de confissão muçulmana sunita, tal como o EI. Foram levados para zonas sob o controlo dos jihadistas, na província de Raqqa.

As estimativas do observatório quanto às execuções são elevadas, embora mais baixas do que os 300 mencionados pela agência noticiosa oficial: diz que pelo menos 85 civis e 50 combatentes foram mortos, e que também 42 jihadistas morreram nos combates.

“Há um genuíno receio pela vida dos reféns que levaram. O EI pode executá-los, como fez noutras zonas”, disse à Reuters o director do observatório, Abdel Rahmane.

A ofensiva lançada no sábado pelo EI assegurou-lhe o controlo de 60% da província de Deir-Ezzor, disse Rahmane à AFP. Al-Bgheliyeh tem sido um alvo dos ataques aéreos da aviação russa, aliada do regime de Assad.

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Acossados pela fome
Desde Março que o EI tem feito cerco às zonas controladas pelo Governo em Deir Ezzor, tentando acabar com a resistência. Um dos resultados possíveis é a fome nestas áreas – as Nações Unidas anunciaram no sábado que receberam relatos, ainda não confirmados, de que 15 a 20 pessoas morreram de fome na cidade capital da província, que tem o mesmo nome.

“Todas as escolas estão a funcionar na cidade, mas é frequente as crianças faltarem às aulas, porque os alunos desmaiam muitas vezes, devido à má-nutrição”, diz um relatório da ONU, citado pela Reuters.

Há 200 mil pessoas em Deir Ezzor com reduzido acesso a alimentos, e as suas condições de vida estão a deteriorar-se ainda mais. Sobretudo as zonas a ocidente da cidade têm estado bloqueadas pelos jihadistas, o que significa que quem ali mora também não tem electricidade há mais de dez meses, nem água corrente durante mais de três horas por semana, diz o relatório.

cerca de 15 zonas a sofrer um bloqueio deste género na Síria, como Madaya, que recebeu dois comboios de ajuda humanitária este mês, mas Deir-Ezzor é a mais populosa. Vivem ali ainda 450 mil pessoas.

Tanto o Estado Islâmico como o Governo de Assad tornam a vida destas pessoas um inferno. “Os militantes interrogam e atormentam as pessoas que tentam deixar a cidade e confiscam-lhes os documentos; o Governo sírio exige aos que querem deixar Deir-Ezzor por terra ou por via aérea que obtenham uma autorização”, lê-se no relatório do Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês).

A maior parte da população que está ainda a viver nesta cidade sob bloqueio são mulheres e crianças – cerca de 70%. Muitos são deslocados, obrigados a fugir das suas casas e vivem em abrigos temporários. Nenhum dos centros de saúde está a funcionar, e há registo de doenças infecciosas como leishmaniose e febre tifóide.

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