FBI investiga envolvimento de Blatter em esquema de subornos
Presidente da FIFA teria conhecimento de pagamentos que superaram os 92 milhões de euros.
As autoridades norte-americanas continuam a não ter mãos a medir na investigação ao escândalo de corrupção na FIFA. A juntar às averiguações centradas na teia de corrupção no continente americano, que já levou a várias detenções e acusações, há um caso de suborno sobre o qual o FBI está a debruçar-se, em particular devido ao suposto conhecimento que Joseph Blatter teria de todo o esquema.
A informação foi divulgada pela emissora britânica BBC e será desenvolvida numa reportagem do programa Panorama, que vai ser transmitida na noite desta segunda-feira. Em causa estão mais de 92 milhões de euros que terão sido pagos em subornos pela International Sport and Leisure (ISL) – uma empresa suíça que actuava na área do marketing desportivo e tinha ligações fortes à estrutura da FIFA. A empresa desapareceu em 2001, com dívidas que ultrapassavam os 140 milhões de euros.
O FBI está a investigar se Joseph Blatter teria conhecimento de todo o esquema de subornos, que se terá desenrolado durante a década de 1990 e terá garantido à ISL contratos lucrativos de televisão e direitos comerciais. A investigação partiu de uma carta alegadamente escrita por João Havelange, antecessor de Blatter na presidência da FIFA, e que terá sido um dos beneficiados pelo esquema de corrupção. Tal como Ricardo Teixeira (antigo membro do comité executivo da FIFA e ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol), entre outros dirigentes.
“Durante o período de tempo em que fui presidente da FIFA, o sr. Joseph Blatter foi secretário-geral, e mantive relações comerciais com empresas de marketing desportivo que estavam sob o meu controlo económico. Como resultado dessas relações, recebi uma remuneração, de acordo com os regulamentos da FIFA, o que foi objecto de um acordo judicial na Suíça, sem reconhecimento de qualquer culpa. Clarifico que todas as despesas mencionadas no processo, incluindo com advogados, foram pagas pela FIFA. E reforço que o sr. Blatter tinha pleno conhecimento de todas as actividades e esteve sempre informado delas”, poderá ler-se na carta de Havelange. A carta desencadeou a investigação do FBI, que solicitou o auxílio das autoridades suíças. O pedido terá sido feito ainda antes da primeira vaga de detenções, em Maio, dois dias antes de Blatter vir a ser reeleito presidente da FIFA.
O envolvimento da ISL no pagamento de subornos já tinha sido revelado em 2010, numa outra investigação do programa Panorama, da BBC. Em 2013, Blatter afirmou perante o comité de ética da FIFA que não tinha conhecimento do esquema de subornos, tendo sido ilibado de qualquer ilícito. No mesmo ano, um relatório do comité de ética confirmou que Havelange e Teixeira tinham recebido uma série de subornos durante um período de oito anos. Havelange demitiu-se do cargo de presidente honorário da FIFA. Ricardo Teixeira foi um dos 16 acusados pela justiça norte-americana na mais recente vaga de detenções.
Perante o acumular de escândalos, Blatter anunciou em Junho que deixará a presidência da FIFA. O novo congresso eleitoral extraordinário vai realizar-se no dia 26 de Fevereiro. O dirigente suíço foi suspenso por suspeitas de corrupção, num caso que envolve um pagamento de dois milhões de francos suíços (cerca de 1,8 milhões de euros) feito a Michel Platini, presidente da UEFA, em 2011.