Mais dois detidos e 16 acusados no dia em que a FIFA aprovou reformas
Justiça norte-americana acusa mais uma série de responsáveis da hierarquia do futebol pelo envolvimento num esquema de subornos. Dois detidos em Zurique, antes de a FIFA votar novas medidas
Os últimos seis meses têm sido tudo menos tranquilos para a FIFA, com o escândalo de corrupção a ganhar proporções. Logo ao romper da manhã de ontem, foram detidos pelas autoridades suíças, a pedido da justiça norte-americana, mais dois elementos da hierarquia do futebol mundial – não deixa de ser irónico que tal tenha acontecido cerca de três horas antes de o Comité Executivo aprovar um pacote de medidas para reformar o funcionamento do organismo que tutela o futebol mundial, a ser votado no congresso de 26 de Fevereiro, que também servirá para a eleição do sucessor de Joseph Blatter na presidência da FIFA.
Mas antes do final do dia ainda houve mais novidades: em Washington, a procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch, anunciou que há 16 novos acusados na investigação ao esquema de subornos, lavagem de dinheiro e fraude. Oito deles declararam-se culpados e estão a cooperar, explicou ainda.
Eram seis da manhã quando a polícia suíça entrou no Baur au Lac, um hotel de luxo em Zurique, para deter o hondurenho Alfredo Hawit e o paraguaio Juan Ángel Napout, ambos vice-presidentes da FIFA e líderes da Confederação da América do Norte, Central e Caraíbas (CONCACAF) e Confederação Sul-Americana (CONMEBOL), respectivamente. “[Estes dirigentes] receberam, alegadamente, dinheiro em troca da venda de direitos de comercialização relacionados com torneios de futebol na América Latina, bem como dos jogos de qualificação para o Campeonato do Mundo”, podia ler-se num comunicado do ministério suíço da Justiça. Hawit e Napout recusaram a extradição para os EUA.
As detenções foram feitas em articulação com a justiça norte-americana, que ao final do dia tornou pública uma nova acusação contra 16 elementos da hierarquia da FIFA, entre eles os actual e ex-presidentes da Confederação Brasileira de Futebol, Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira, respectivamente, assim como os líderes de outras nove federações nacionais de futebol (Bolívia, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai e Peru). “Posso revelar que oito dos novos acusados concordaram em declarar-se culpados pelo envolvimento neste esquema de corrupção”, indicou Loretta Lynch. Em causa está aquilo que a procuradora-geral dos EUA descreveu como uma teia cujo objectivo era “institucionalizar a corrupção para benefício pessoal”. Os 16 elementos estão acusados de extorsão, associação criminosa e outros ilícitos. Entre subornos e comissões, os montantes envolvidos neste esquema estarão “bem acima” dos 200 milhões de dólares (182 milhões de euros), “rastreados em pelo menos 40 países”. “É uma das mais complexas investigações financeiras alguma vez conduzidas a nível mundial. O Campeonato do Mundo da fraude”, indicou o director dos serviços tributários dos EUA, Richard Weber.
“A FIFA está ciente das acções tomadas pelo departamento de justiça dos EUA e vai continuar a cooperar com a investigação”, reagiu, em comunicado, o organismo que tutela o futebol mundial. Há seis meses tinham sido acusados outros 14 responsáveis, entre eles o ex-presidente da CONCACAF, Jeffrey Webb, que optou por declarar-se culpado, devolver 6,7 milhões de dólares (6,1 milhões de euros) e colaborou com as autoridades, fornecendo provas para a nova acusação aos 16 elementos. Os envolvidos no esquema de subornos enfrentam penas que podem ir até aos 20 anos de prisão.
A par da investigação que decorre nos EUA, centrada na teia de corrupção no continente americano, as autoridades suíças estão a debruçar-se sobre o processo de atribuição dos Mundiais de 2018 e 2022. Já foram identificadas 121 transações suspeitas e estão a ser examinados 11 terabytes (11.000 gigabytes) de informação. Foi no âmbito desta investigação que Joseph Blatter e Michel Platini, o presidente da UEFA, foram suspensos pelo comité de ética.
No plano institucional, o Comité Executivo da FIFA aprovou um programa de reformas que inclui a limitação de mandatos do presidente e outros altos responsáveis (três mandatos de quatro anos), a transparência dos rendimentos desses dirigentes e o reforço da presença de mulheres em cargos de chefia.