Atentado reivindicado pelo Estado Islâmico mata governador de Áden

Guerra, tensões sectárias e pobreza são terreno fértil para os jihadistas se implantarem no Iémen.

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A insegurança domina Áden, cidade controlada pelas forças leais ao Presidente iemenita Nasser Awad/Reuters

O Estado Islâmico reivindicou a explosão que matou este domingo o governador de Áden, cidade portuária no Sul do Iémen controlada pelas forças leais ao Presidente Abd Mansour Hadi. O ataque é uma nova demonstração da crescente presença dos jihadistas no país mais pobre do Médio Oriente, aproveitando-se da guerra entre o Governo, apoiado por uma coligação encabeçada pela Arábia Saudita, e os combatentes huthi, uma tribo xiita apoiada pelo Irão.

O general Jaafar Mohammed Saad seguia para o seu gabinete quando a coluna de veículos em que viajava foi atingida por uma explosão – de tal forma potente que foi ouvida a dez quilómetros de distância. Fotografias publicadas em sites locais mostram o seu carro em chamas, com uma espessa coluna de fumo erguendo-se dos destroços. Além do governador, pelo menos seis seguranças e membros da sua equipa morreram na explosão, que provocou vários feridos.

Pouco depois, um comunicado divulgado num dos serviços de mensagens usados pelo Estado Islâmico diz que o general foi morto na explosão de um carro armadilhado e promete novas acções contra “os chefes da apostasia no Iémen”. O atentado ocorreu no bairro de Tawahi, uma das zonas mais inseguras da grande cidade portuária, onde são frequentes os confrontos entre as forças de segurança e grupos extremistas.

O Presidente Hadi regressou ao Iémen em Novembro para coordenar, a partir de Áden, a ofensiva que tem como objectivo imediato conquistar a estratégica cidade de Taiz aos rebeldes. Conta com a ajuda dos bombardeamentos da coligação de dez países que a Arábia Saudita uniu em Março, depois de os huthi, que já controlavam Sanaa, terem entrado em Áden. A segunda maior cidade do Iémen foi reconquistada em Julho, numa batalha em que as forças do general Jaafar Mohammed Saad foram decisivas, mas a insegurança permanece.

Em Outubro, o Governo do primeiro-ministro Khaled Bahan viu-se forçado a mudar a sua sede para a Arábia Saudita depois de quatro suicidas terem atacado as instalações provisórias do executivo e bases da coligação árabe, matando 15 pessoas. Já neste sábado, homens armados mataram, em dois ataques separados, o presidente do tribunal que julga casos de terrorismo e um oficial da polícia local.

O Iémen – e Áden em particular – é há muito terreno fértil para a Al-Qaeda na Península Arábica, considerado o braço mais perigoso da rede terrorista fundada por Osama bin Laden, pelas suas capacidades militares e a eficácia demonstrada para planear atentados a nível internacional. Nos últimos anos, drones americanos têm atacado incessantemente o grupo, com o aval de Hadi (e do Governo saudita), mas o conflito com os huthis, a ingerência saudita e a pobreza são ingredientes que continuam a contribuir para a implantação do jihadismo.

A situação tornou-se ainda mais precária desde o surgimento, no final do ano passado, de um braço do Estado Islâmico, rival da Al-Qaeda e que disputa com ela o protagonismo do movimento jihadista. Tal como a Líbia, a organização vê no Iémen um território ideal para expandir o califado que proclamou nos territórios que controla entre a Síria e o Iraque, e aposta na brutalidade como arma de propaganda – em Março, atentados contra duas mesquitas de Sanaa geridas pela tribo huthi provocaram 140 mortos e mais de 300 feridos.

 

 

 

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