Jesus, pela terceira vez consecutiva, “desestruturou” o Benfica
A alteração táctica mais relevante foi empreendida por Rui Vitória que apresentou um sistema maleável, com Talisca a substituir o habitual titular Jonas, ficando Mitroglou sozinho na frente de ataque. A defender o Benfica manteve o 4x4x2, Gaitán actuou mais adiantado junto do grego, ficando o meio campo com o corredor central protegido por Talisca e Samaris, sendo as alas ocupadas por Pizzi e Gonçalo Guedes. A atacar as “águias” dispuseram-se em 4x2x3x1, com Talisca e Samaris a pegarem no jogo atrás e a dialogarem com Gaitán, que estava incumbido de criar jogadas letais a partir da zona interior.
O Sporting sentiu bastante esta alteração de sistema e consequente dinâmica do adversário, tendo enormes dificuldades em (a partir do seu 4x3x3) definir posicionamentos e ajustar a zona de pressão mais adequada para roubar a bola. As duas linhas de “4” muito juntas do Benfica inviabilizaram as ligações entre Montero (mais adiantado), Adrien e João Mário (movimentos de fora para dentro). Esse espaçamento exíguo tornou infrutífera a aposta no colombiano do Sporting, que não conseguiu ser o elemento desequilibrador “entre linhas”. Os laterais do Sporting (João Pereira e Jefferson) foram manietados pelo posicionamento contido de cobertura dos flancos tendo G. Guedes e Pizzi, impossibilitado os venenosos cruzamentos do lateral brasileiro a servir Slimani.
A abordagem mais cautelosa do treinador do Benfica, com uma disposição média /baixa do seu bloco (as tais linhas próximas), visou proteger a zona central recuada do seu terreno, mais concretamente a dupla Luisão/Jardel, que tem feito actuações sofríveis, mais por desprotecção colectiva do que por desinspiração meramente individual (destapamento das laterais e perdas de bola dos médios defensivos na primeira fase de construção). A disciplina táctica que Rui Vitória impôs, mantendo-se a maior parte do tempo a equipa recuada em contenção (saindo muito pouco no contragolpe), permitiu aos "leões" um ânimo asfixiante de pressão e domínio. Foi no único momento de “indisciplina” (quando o Benfica subiu um pouco o bloco) que o Sporting encontrou (com uma bola longa) espaço para solicitar a profundidade de Slimani, que ganha as costas da defesa e inicia o caminho para o golo de Adrien, (foi o “equilibrador” da equipa a desequilibrar).
Jorge Jesus percebendo a dificuldade de progressão pelas alas (no início da segunda parte) fez entrar Gelson (mais criativo) para o lugar de Montero, ficando João Mário a “pisar” o corredor central (pressionando mais em cima do último terço). Com esta alteração (no processo defensivo) os sportinguistas conseguiram condicionar a saída de bola dos "encarnados" e (em momento ofensivo) ter um “farol” que toma sempre a melhor opção no passe (em largura ou profundidade).
Tentando robustecer o meio campo com uma ocupação de espaços mais perene, Rui Vitória responde com a entrada de André Almeida (por Pizzi), ficando Talisca colocado na zona central (jogando agora como definidor, procurando último passe/remate). Esse efeito durou pouco, tendo o Sporting nos 10 minutos finais asfixiado o Benfica (que contou com um exímio Júlio César).
O prolongamento originou um resultado justo em favor dos "leões", que dominaram com inúmeras oportunidades. Rui Vitória deveria ter sido fiel à sua cautelosa abordagem inicial (impunha-se a saída de Eliseu esgotado, desconcentrado e enervado). Foi pela explosão de Gelson em cima do lateral que o Sporting dá a estocada final no jogo. A terceira derrota consecutiva do Benfica contra Jesus será certamente um golpe táctico/emocional muitíssimo difícil de superar.