"Hercules told me to stay in America" é o resultado de três anos de registo fotográfico na Instituição Psiquiátrica de Lahore, no Paquistão. A fotógrafa francesa Marylise Vigneau conviveu com dezenas de pacientes e imediatamente se afeiçoou aos da ala crónica. "Inicialmente diziam-me que ia ser muito mau: que o sítio era horrível e que eles eram todos doidos e violentos. A verdade é que a maioria deles são apenas seres humanos muito sensíveis que procuram amor e atenção". "Tornámo-nos amigos, brincávamos juntos às bolas de sabão, cantávamos... Ou eram canções de amor tradicionais ou canções de Bollywood. Por vezes também canções de pesar Shia. Um dos pacientes, cujo nome não me recordo, começou a cantar uma canção sobre a morte de Imam Hussayn e no final as lágrimas corriam-lhe pela cara. Fiz-lhe uma fotografia. Não é uma boa fotografia, mas é um momento que guardo comigo. Sentíamos empatia um pelo outro e ele ofereceu-me um cachecol. Eu ofereci-lhe um anel", contou ao P3. "Hércules disse-me para ficar na América" foi uma frase proferida por um interno e Marylise anotou. "A última passa de um cigarro é melhor do que mil beijos de uma virgem" ou "eu compreendi o sentido da vida: desfrutar, desfrutar" são outros exemplos que levantam o véu sobre a realidade interior de pessoas que a sociedade não enquadra fora das quatro paredes de uma instituição psiquiátrica. Marylise Vigneau viveu no Paquistão e no Cambodja, onde desenvolveu projectos fotográficos de longo curso, e já expôs trabalho no Festival de Fotografia de Angkor, na Índia e na Foto Istanbul, na Turquia, entre outros. "Se ficasse presa no Paquistão para sempre, era lá que gostaria de ficar", confessou Vigneau. "Preferia ficar com eles do que presa numa casa como uma 'menina' de uma família conservadora." Ana Marques Maia

A autora agradece a Aun Raza - cuja presença influenciou o tom do projecto e o encheu de palavras que de outro modo lhe seriam ininteligíveis - e ao doutor Nusrat Rana, psiquiatra e director do Instituto, pelo acesso e pela confiança.