Renegociação de dívida dá novo fôlego à Valentim de Carvalho

Com um processo de revitalização aprovado com os credores e prazos mais longos para regularizar a dívida, de dez milhões, a Valentim de Carvalho tem maior "tranquilidade" e espera aumento de receitas.

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Desde 2011 que a empresa, que tem 48 colaboradores fixos, tentava sem sucesso “encontrar soluções de financiamento junto da banca nacional” Bruno Lisita
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Desde 2011 que a empresa, que tem 48 colaboradores fixos, tentava sem sucesso “encontrar soluções de financiamento junto da banca nacional” Bruno Lisita
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Desde 2011 que a empresa, que tem 48 colaboradores fixos, tentava sem sucesso “encontrar soluções de financiamento junto da banca nacional” Bruno Lisita

Depois de anos de dificuldades financeiras, o grupo Valentim de Carvalho começa “a ver a luz ao fundo do túnel”. A gestão da empresa conseguiu o apoio “de mais de 90% dos credores” e fez aprovar um plano de revitalização (PER) que vem dar novo fôlego ao grupo com mais de 100 anos de história. “Já estamos em período pós-PER e a implementar o plano de pagamentos”, disse ao PÚBLICO o administrador financeiro da Valentim de Carvalho, Manuel Duque.

“Neste momento, se expurgarmos tudo o que é dívida entre empresas do grupo, o passivo total consolidado da Valentim de Carvalho não vai além dos dez milhões de euros”. Além da empresa-mãe, também a Estúdios VC e a VC Televisão estão abrangidas pelo PER. “Está tudo reestruturado e estamos neste momento numa situação muito mais tranquila”, assegurou Manuel Duque.

Abre-se assim um novo ciclo para o grupo que teve as suas origens em 1914, numa loja da baixa lisboeta que vendia instrumentos musicais e pautas de música, mas que viria a destacar-se como a primeira editora discográfica portuguesa, em cujos estúdios gravaram Amália Rodrigues e Carlos Paredes, mas também o catalão Joan Manuel Serrat e o brasileiro Vinicius de Moraes.

Segundo Manuel Duque, os maiores credores são a Autoridade Tributária (300 mil euros) e o Millennium bcp (600 mil euros), isto se excluirmos os seis milhões devidos pelos Estúdios. O resto é “dívida pequena”, numa lista que inclui três dezenas de credores onde, além de diversos bancos, estão a Meo, empresas de limpezas, ex-colaboradores, agências de viagens e consultoras informáticas, entre outros.

O plano que foi homologado no início deste mês pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste não contempla redução da dívida, mas sim “a redução das taxas de juro e um alargamento dos prazos de pagamento”, para 150 meses.

Como o objectivo do PER é precisamente a recuperação, a Valentim de Carvalho já pôs em marcha um plano de investimento para reactivar a actividade: objectivas, câmaras, mesas de áudio, um carro de exteriores, são apenas algumas das aquisições num investimento que já vai em 600 mil euros.

Desde 2011 que a empresa, que tem 48 colaboradores fixos, tentava sem sucesso “encontrar soluções de financiamento junto da banca nacional”. “O problema”, segundo explicou o seu responsável financeiro, é que “o grupo tinha muita dívida de curto prazo concentrada, com vencimento em 2018”. Pelo meio ainda ficaram tentativas de realizar um aumento de capital através do Fundo Revitalizar Sul (fundo de capital de risco do IAPMEI) “numa das empresas que está sã, a Valentim de Carvalho Filmes”. Mas a operação acabaria por cair em virtude de um “pormenor técnico”, obrigando a avançar para um PER.

Desde logo houve acordo com os principais credores - banca e Estado. “Todos estavam receptivos” à ideia de avançar com um pedido judicial de recuperação, “mas não queriam dar o primeiro passo” e por isso acabou por ser um credor menor, o revisor oficial de contas, a iniciar o processo com a empresa.

Os sinais sobre o que aí vem são bons. Depois de uma “quebra de actividade de 50%” em 2011, retomou-se o caminho de crescimento. Em 2014, o volume de negócios foi de 5,2 milhões de euros e este ano espera-se que “cresça ligeiramente”. Os resultados líquidos rondaram os 600 mil euros.

Se foi a edição discográfica que notabilizou a empresa dentro e fora de Portugal, especialmente a partir de 1963, quando Rui Valentim de Carvalho, sobrinho do fundador (o empresário Valentim de Carvalho) inaugurou os estúdios áudio de Paço d’Arcos, o essencial do volume de negócios divide-se hoje pelo aluguer de estúdios televisivos e meios técnicos e humanos a outras produtoras e pela produção própria de programas.

É nos estúdios de Paço de D’Arcos que se gravam os programas “Quem quer ser milionário”, “5 para a meia-noite”, “Nélio e Dália” e “Donos Disto Tudo”, produzidos para a RTP (que são o principal cliente). Mas também se faz lá a produção técnica do “The Voice” e “Peso Pesado”, que são de outras produtoras.

Quanto à gravação de música, “já não é um negócio relevante” e o contributo mensal para as receitas não supera os 100 mil euros, “embora se continue a fazer muito boa música em Portugal”.

“A empresa tem de saber adaptar-se a um mercado em mudança, onde surgem novas plataformas, como o streaming”, diz Manuel Duque. Já em 1988, a Valentim de Carvalho teve desistir da produção fabril dos vinis quando chegaram os CD. E em 2009 viu falir o negócio das lojas, pelo crescimento da pirataria e o aparecimento dos novos formatos digitais.

 

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