Rebeldes recebem mais armas norte-americanas para combaterem a Rússia e Assad
A campanha da Rússia na Síria alterou o rumo da guerra e pôs Assad na ofensiva. Ocidente e aliados tentam contrariá-lo, mas é difícil de saber se estão a apoiar rebeldes ou radicais.
À medida que forças do regime avançam nas zonas mais sensíveis do Noroeste do país, recuperam o território perdido nos últimos meses e ameaçam zonas de insurgentes, também Moscovo tem ficado mais agressivo nas suas ofensivas aéreas. Os caças russos fizeram 88 ataques na Síria só entre esta segunda e terça-feira. É um aumento exponencial em relação aos cerca de 25 ataques diários que realizava há uma semana e até mesmo à agressiva campanha do fim-de-semana, em que atacou mais de 60 alvos por dia.
O Kremlin e meios de comunicação russos insistem em dizer que a sua campanha aérea atinge apenas o autoproclamado Estado Islâmico. Mas só existem provas do contrário. A ofensiva russa atinge cada vez mais grupos de rebeldes e extremistas nas províncias de Hama, Homs e Idlib, todos territórios-chave para o controlo do país e onde Assad está mais fragilizado. As bombas russas que caem em posições do Estado Islâmico são apenas uma fracção dos seus ataques na Síria.
Combinam-se elementos que podem agravar o conflito. Os mísseis TOW foram responsáveis por avanços importantes de rebeldes nos últimos meses. São mesmo o instrumento mais eficaz contra veículos blindados e tanques de Assad. De acordo com o New York Times, estas armas estão a entrar na Síria pela mão de aliados norte-americanos na região, como a Arábia Saudita, que comprou 13 mil sistemas antitanque aos Estados Unidos em 2013. Não são directamente enviados por Washington que, no entanto, é quem autoriza os grupos a que os sauditas os podem entregar.
Mas à medida que a Rússia aumenta a sua ofensiva aérea na Síria e forças leais ao regime de Assad avançam com sucesso no terreno, mais se esbatem as distinções entre rebeldes moderados e extremistas. O Wall Street Journal documenta duas alianças recém-formadas, em Hama e Homs, entre vários grupos fragmentados do Exército Livre da Síria e uma poderosa aliança de grupos islamistas, comandada pelo poderoso braço da Al-Qaeda no país, a Frente al-Nusra. Uniram-se para combaterem Assad e Moscovo e têm-no conseguido em Hama, onde ainda controlam as vilas de Kafr Nabuda e Khan Cheikhoun, apesar das dezenas de bombardeamentos dos últimos dias.
É também em Hama, para além de Idlib, que se têm avistado cada vez mais mísseis TOW – o New York Times diz que foram publicados pelo menos 34 vídeos com estes mísseis nos últimos seis dias e fontes de grupos rebeldes confirmaram novas entregas ao diário norte-americano e Reuters. “Conseguimos ter tanto quando quisermos quando precisarmos”, disse o comandante de um grupo rebelde. “Temos o que pedimos em muito pouco tempo”, disse outro, Ahmad al-Saud, do grupo Divisão 13. Em dois dias, assegura, os seus combatentes destruíram sete tanques com sete mísseis TOW.
Não são os únicos a receberem mais armas dos Estados Unidos. No domingo, Washington enviou 50 toneladas de munições e granadas àquilo que designa a Coligação Árabe Síria, um grupo de grupos armados árabes no Norte do país que na segunda-feira anunciou que iria integrar uma nova coligação com as poderosas milícias curdas, também apoiadas pelo Ocidente. O Pentágono anunciou o envio destas armas, o primeiro passo na sua nova estratégia para fortalecer grupos moderados na luta ao Estado Islâmico.
Os avanços na frente diplomática não acompanham as novidades no terreno e há cada vez menos sinais de que os rivais regionais se estão a aproximar de uma solução para o conflito. Os Estados Unidos afirmaram nesta terça-feira que os caças russos na Síria se aproximaram dos seus aviões ao ponto de se avistarem sem ajuda de instrumentos de detecção, sinalizando o perigo de os dois países entrarem em confrontos indesejados. A Rússia anunciou pouco depois que os dois exércitos iriam fazer uma videoconferência na quarta-feira, mais de duas semanas depois dos primeiros ataques de Moscovo na Síria.