Depois de golpe de Estado, exército insiste em governar o Burkina Faso
Aliados do antigo Presidente Blaise Campaoré recusam acordo mediado com a Comunidade de Estados da África Ocidental. Protestos na capital já fizeram dez mortos.
Há manifestações diárias na capital Ouagadougou contra o golpe de Estado do exército e da guarda presidencial. Desde quarta-feira, já morreram dez pessoas e mais de cem ficaram feridas, segundo escreve a Associated Press (AP). Os opositores ao golpe tentam paralisar a cidade com protestos e barricadas, ambas repelidas com violência pelos militares, que impuseram um recolher obrigatório na cidade.
O Presidente senegalês, Macky Sall, representante da CEDEAO nas negociações do fim-de-semana, anunciou domingo que se havia chegado a um acordo provisório que previa eleições legislativas até dia 22 de Novembro. O acordo permite que figuras próximas ao antigo Presidente Blaise Campaoré participem nas novas eleições, uma das principais exigências dos autores do golpe de Estado. Exige também que o general Gilbert Diendéré, antigo chefe de Estado Maior de Campaoré, devolva o Governo à sociedade civil e a Michel Kafando.
Porém, ao final do dia, o exército disse que quer que seja Diendéré a governar o país até às eleições de Novembro. O golpe da semana passada aconteceu a menos de um mês das eleições legislativas no país. Estas deveriam substituir o governo interino que lidera o país desde que, em Outubro do ano passado, uma revolta popular afastou Blaise Campaoré, há 27 anos no poder.
O Governo de transição de Michel Kafando proibiu a participação de aliados de Campaoré nas eleições que deveriam ter acontecido a 11 de Outubro. O ex-líder do Burkina Faso está no exílio desde 2014 e são seus apoiantes, sobretudo, os responsáveis pelo golpe da semana passada.
No sábado, o hotel onde decorreram as negociações foi atacado por membros da guarda presidencial, mascarados e armados com espingardas automáticas. O ataque não causou feridos e parece ter sido apenas um acto de intimidação contra os mediadores africanos. No dia seguinte, diante do mesmo hotel, os protestos foram levados a cabo por manifestantes antigolpe. “Não a Diendéré! Não ao governo militar”, gritou-se, segundo a AP.
Antes de anunciado o resultado das negociações do fim-de-semana, o Presidente francês, François Hollande, alertou em Marrocos para que o seu resultado fosse respeitado pelo exército do Burkina Faso. “A França apoia os mediadores africanos. Envio um forte alerta àqueles que possam estar tentados a se oporem.”