Winterbottom dedica o filme à vítima (
Meredith Kercher)
, e é com o rosto dela (ou, enfim, da personagem que, com nome modificado, a representa) que o filme se conclui. Mas não parece que esteja particularmente interessado nela, nem mesmo na suposta assassina. O Rosto da Inocência podia ser uma aplicação daquele velho e comprovado estilo jornalístico, muito descritivo e muito factual, e concentrar-se no processo e na investigação. Mas isso, afinal, é só um pretexto para Winterbottom filmar uma crise pessoal — a da personagem de Daniel Brühl, que tem de conseguir escrever um argumento cinematográfico a partir do caso — e encenar a enésima, e muito desenxabida, história do escritor em crise criativa e desarranjo pessoal. Como estamos em Itália, salpica-se a coisa com uns pozinhos de Dante e da Divina Comédia: o “meio do caminho”, pois então. Os simbolismos e as “visões” do protagonista são pesados, as ideias mastigadas e expostas com nada subtil previsibilidade (a sobreposição de raparigas jovens no espírito da personagem, por exemplo). Nem policial nem “drama psicológico”, antes um arremedo das duas coisas sem ser nenhuma, O Rosto da Inocência cedo se perde para nunca mais se encontrar.