Agosto concentrou 40% do total da área ardida em 2015
Balanço da fase Charlie aponta para número de incêndios e área ardida dentro da média dos últimos dez anos, apesar da falta de chuva.
“O número de ocorrências de 2015 ficou próximo da média do decénio. Os meses de Janeiro, Março, Abril, Maio e Junho têm valores muito acima da média e Julho e Agosto têm valores abaixo da média dos últimos dez anos. No que diz respeito à área ardida, em 2015 estamos com 35% abaixo da média dos últimos dez anos e 80% das ignições têm uma área ardida inferior a um hectare. São considerados os fogachos”, sintetizou José Manuel Moura, na conferência de imprensa de balanço da fase Charlie do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais, que começou a 1 de Julho e que se prolonga até ao final de Setembro.
De acordo com o Comandante Operacional Nacional, estes valores são considerados positivos já que 2015, em termos de severidade meteorológica, é o pior ano dos últimos 16 anos. Contudo, este índice apenas mede a secura, um dos ingredientes necessário à propagação dos fogos. Na realidade, este ano conjugaram-se poucas vezes o caldo perfeito para os fogos: temperaturas altas, humidade relativa do ar baixa e ventos de leste fortes. José Manuel Moura fala em "bons resultados" e atribuiu-os à prestação do dispositivo de combate a incêndios, que melhorou os tempos de resposta. “A rapidez da primeira intervenção é determinante”, defendeu, avançando que o facto de estarem a antecipar o ataque às chamas com meios aéreos pesados tem trazido melhores resultados.
“Só a resposta com muita competência tem permitido não termos áreas ardidas similares a anos com severidade como esta”, insistiu, dando o exemplo do incêndio de Vila Nova de Cerveira, zona onde costumam ardem oito a nove mil hectares e que neste ano ficou abaixo dos três mil hectares. Mesmo assim, o responsável da ANPC alertou que o número de ocorrências é anormal para a dimensão de Portugal. “Este é o ponto crítico do problema dos incêndios florestais, que tem a ver com o número de ignições que se verificam no território e que continuamos a achar que é um número excessivo para a área do território”, afirmou José Manuel Moura. O pico de ocorrências foi registado no fim-de-semana de 8, 9 e 10 de Agosto, com o segundo dia a atingir 336 incêndios. “Foi aqui que atingimos o maior número de ocorrências diário”, acrescentou.
A primeira quinzena de Agosto foi, à semelhança de outros anos, a mais problemática, concentrando 63% dos incêndios do mês e 67% da área ardida. Fazendo as contas desde Janeiro, Agosto reúne 25% dos fogos e 40% da área ardida. “A primeira quinzena é estatisticamente a quinzena que nos traz recorrentemente mais problemas de incêndios florestais, mas o mês de Agosto acaba por estar dentro do padrão”, disse José Manuel Moura.
Quanto a diferencias regionais, o Comandante Operacional Nacional adiantou que “o distrito do Porto é o que maior número de ignições continua a apresentar”, sucedido por Braga, Lisboa e Aveiro. Dos dez concelhos com mais ocorrências, oito são no Porto. Mas os incêndios mais significativos não são necessariamente nesta zona. Aliás, até agora foram registados cinco incêndios com mais de 24 horas de duração, em Terras de Bouro, Vila Nova de Cerveira, Monção, Gouveia e Sabugal.
Por fim, José Manuel Moura lamentou a morte de um bombeiro. “A permanente segurança das forças é o nosso grande objectivo. Infelizmente, de um acidente rodoviário resultou uma vítima mortal, um bombeiro de Carcavelos. Ainda que seja um acidente rodoviário não deixou de ser um forte murro no estômago que o dispositivo levou”, assumiu.