Portugal enfrenta pior severidade meteorológica dos últimos 16 anos
Condições são muito favoráveis para os fogos florestais, mas Protecção Civil diz que o combate está a funcionar.
O índice de severidade meteorológica – um dos que são normalmente utilizados para descrever as condições de risco para os fogos florestais – está mais elevado do que em 2003, 2005 e 2013, anos catastróficos em termos de área ardida em Portugal. “Este ano é o mais severo dos últimos 16 anos”, disse José Manuel Moura, responsável pelo Comando de Operações Nacional de Socorro da Protecção Civil, numa conferência de imprensa esta terça-feira.
Os incêndios deste ano consumiram, até 31 de Julho, 28.781 hectares de matos e florestas, segundo o último relatório do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), divulgado esta terça-feira. Na década anterior (2005-2014), apenas dois anos tiveram maior área ardida até ao fim de Julho: 2005 (92 mil hectares) e 2012 (68 mil hectares).
Em 2014, ao longo de todo o ano arderam apenas 20 mil hectares – o menor valor desde que há registos sobre os fogos florestais em Portugal. Já este ano, tanto a área ardida, como o número de fogos até ao final de Julho ultrapassam os valores totais de 2014, mas estão próximos dos valores médios da década anterior. Houve 10.340 incêndios. A média entre 2005 e 2014 foi de 9961. Já a área ardida está ligeiramente inferior à média, que é de 29.467 hectares.
José Manuel Moura afirma que as condições meteorológicas actuais são capazes de criar grandes problemas em pouco tempo. “Temos incêndios a arrancar em 20 minutos com uma força brutal”, afirma.
Mas o coordenador nacional das operações de socorro faz um balanço positivo do combate aos incêndios até agora. “Em nenhuma ocorrência tivemos um incêndio com mais de 24 horas”, justifica. O tempo médio para a primeira equipa de combate chegar a um incêndio é de cerca de 12 minutos. E, em média, os fogos têm vindo a ser controlados em 36 minutos.
A “resposta musculada” aos fogos, segundo José Manuel Moura, tem feito com que muitos nem cheguem a ser notícia. Na prática, 79% dos incêndios são fogachos, com menos de um hectare de área ardida, segundo os números do ICNF.
Este ano, contam-se para já 43 incêndios com mais de 100 hectares. Os maiores ocorreram em Sever do Vouga, a 2 de Abril, com 1574 hectares de área ardida, e em Tomar, dia 7 de Julho, com 1580 hectares.
O combate tem sido facilitado por um número menor de fogos ao mesmo tempo, em relação a outros anos. O maior volume de ocorrências diárias foi registado na Primavera, durante uma onda de calor que afectou parte do país entre 27 de Março e 7 de Abril. No dia 4, houve 217 incêndios – o maior número deste ano. Nos verões candentes de 2003 e 2005, chegou a haver mais de 400 ocorrências diárias.
Com a situação meteorológica deste ano, uma nova onde de calor pode complicar substancialmente o trabalho dos bombeiros. Desde Dezembro, tem caído menos chuva do que o normal. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) classificou todos os meses entre Dezembro e Junho como “secos” ou “muito secos”. Os dados para Julho ainda não estão publicados, mas dificilmente fugirão à regra.
O mês de Agosto começou com 383 incêndios registados nos seus três primeiros dias. O mais problemático deflagrou em Oleiros na segunda-feira à tarde e foi dado como dominado na manhã seguinte. Entre 500 a 700 hectares de matos e florestas terão ardido, segundo estimativa da Câmara Municipal.
A previsão do IPMA para os próximos dez dias aponta para condições potencialmente mais problemáticas. O tempo deve-se manter quente e seco e a temperatura vai aumentar na generalidade do território continental no fim-de-semana. No domingo, os termómetros poderão chegar a 40 graus nalguns pontos do país.