Desemprego está mais baixo do que há quatro anos, mas o emprego também é menor
Maior queda registada pelo INE desde pelos menos 1998 colocou a taxa de desemprego em 11,9%, o valor mais baixo desde o final de 2010.
A evolução do desemprego durante o segundo trimestre revelada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) dificilmente poderia ter sido mais positiva. Após dois trimestres consecutivos de subidas, assistiu-se ao regresso em força a uma tendência decrescente que se verificava desde o início de 2013. A taxa de desemprego caiu 1,8 pontos para 12,9%, recuando pela primeira vez para níveis inferiores aos registados no segundo trimestre de 2011, o período em que ocorreu a chegada da troika e a tomada de posse do actual Governo. Nessa altura, registava-se uma taxa de desemprego de 12,1%.
De acordo com os dados publicados esta quarta-feira, no espaço de apenas três meses, entre Abril e Junho deste ano, foram criados em Portugal mais 103,7 mil empregos. No mesmo período, o número de desempregados diminuiu em 92,5 mil pessoas. Indicadores importantes como o desemprego de longa duração, o desemprego jovem, o número de desencorajados ou o subemprego também registaram neste período uma redução. O emprego criado veio sob a forma, principalmente, de contratos a termo, mantendo o mesmo perfil dos últimos anos, e está concentrado no sector dos serviços, não registando uma evolução significativa no sector industrial.
É preciso ter em atenção que os dados do desemprego trimestral publicados pelo INE não são ajustados de efeitos sazonais. E que, normalmente, o segundo trimestre do ano é aquele que apresenta variações mais positivas, devido à criação de empregos temporários que habitualmente ocorre no Verão. É aliás por isso que a maior descida da taxa de desemprego, de 16,4% para 10,8%, ocorreu no Algarve. No entanto, comparado com outros segundos trimestres, este teve resultados mais positivos. Em 2013, a taxa de desemprego tinha registado no total do país uma queda de 1,1 pontos percentuais e em 2014, a descida foi de 1,2 pontos.
Mas apesar deste resultado forte na recta final da legislatura, o balanço final dos quatro anos ainda pode estar sujeito a diversas interpretações. É que se é verdade que os números do segundo trimestre deste ano garantiram que, ao fim de quatro anos, o número de desempregados voltasse a cair pela primeira vez para um nível inferior ao registado no início da legislatura, também não se pode esquecer que o número de empregos existente no país é ainda bastante inferior ao que existia em 2011.
A evolução do mercado de trabalho dos últimos quatros anos está dividida em dois períodos com tendência diferente. No segundo trimestre de 2011, a taxa de desemprego era de 12,1%. Nos trimestres seguintes acentuou a tendência de subida que já registava antes, chegando a um máximo histórico de 17,5% no primeiro trimestre de 2013. A partir daí começou, com algumas interrupções pelo meio, a descer, caindo agora para os 11,9%, um valor mais baixo do que o ponto de partida de 2011. De acordo com os números do INE (que usa os critérios oficiais de cálculo deste indicador) há agora 620 mil desempregados em Portugal, menos 38 mil desempregados do que havia quando chegou a troika.
Quando se olha para o número de empregados, verifica-se que ainda não se voltou aos níveis do passado. No segundo trimestre de 2011, havia 4,799 millhões de empregados e, até ao primeiro trimestre de 2013 esse número caiu de forma ininterrupta e muito acentuada. Desapareceram durante esse período 445 mil empregos.
Desde o início de 2013 até agora registou-se uma recuperação, com destaque para este último trimestre. Foram recuperados 226 mil empregos (mais de 100 mil no segundo trimestre de 2015). O saldo dos últimos quatro anos continua contudo a ser negativo, com uma perda de 219 mil empregos.
Como é que se explica que se possa ter registado uma redução do desemprego detectado nos inquéritos do INE, ao mesmo tempo que o número de empregos diminui?
Há várias razões para este fenómeno. Uma das principais é o facto de, durante este período, se ter assistido a uma diminuição muito rápida da população residente em Portugal. Nos últimos quatro anos, de acordo com as estimativas do INE, passou a haver menos 212 mil pessoas em Portugal. Uma parte deve-se ao maior número de mortes do que de nascimentos e outra parte corresponde a um saldo migratório negativo. Esta tendência manteve-se também no segundo trimestre de 2015, com uma nova redução de 11 mil pessoas na população.
O maior número de emigrantes (e menor de imigrantes) contribuiu para que fosse possível nos últimos quatro anos reduzir o desemprego, sem criar mais emprego.
Outra razão está no aumento do número da população inactiva, que cresceu em 45 mil pessoas desde a chegada da troika. Para este dado contribui o envelhecimento da população, mas também um acréscimo do número de desempregados que deixaram de procurar (no período de referência dos inquéritos) activamente empregos. São os chamados desencorajados, que ascendem a 243 mil pessoas em Portugal, um número que aumentou mais 40 mil nos últimos quatro anos. No último trimestre caiu em cerca de 14 mil.
Existem também outras 243 mil pessoas que estão fora do número de desempregados porque têm um emprego parcial, apesar de afirmarem querer ter um emprego a tempo inteiro. É o chamado subemprego, que passou a afectar mais 36 mil pessoas nos últimos quatro anos. No último trimestre este indicador diminuiu em cerca de 9 mil.
Resumindo estes fenómenos, nos últimos quatro anos, a população activa diminui em 257 mil e a população inactiva subiu em 45 mil, o que torna compreensível a existência de uma diferença tão grande na evolução entre o emprego e o desemprego.
Até às eleições, ainda serão publicados dados mensais do desemprego, um indicador que tem provocado bastante polémica pelo facto de ter vindo a ser sujeito a fortes revisões de um mês para o outro. Os dados do desemprego do terceiro trimestre deste ano serão divulgados no início de Novembro.