As lojas tradicionais da Baixa: desafios presentes e futuros

Finalmente, os proprietários das Lojas Tradicionais encontraram-se em Lisboa, e estabeleceram contacto através de uma plataforma de “cidadania”.

Isto é relevante, agora que a CML anunciou a sua intenção de reactivar a ideia da Classificação, estendendo-a aos bairros históricos e simultaneamente voltar a repetir a ideia/intenção, tantas vezes repetida, de promover o programa “Lojas com História”, onde se pretende simultaneamente defender as características culturais/patrimoniais dos estabelecimentos históricos e promover o comércio tradicional.

Ora, precisamente no artigo acima referido e também em artigo publicado no PÚBLICO em 16/07/2006 Made in Portugal, eu descrevo as experiências que tive oportunidade de desenvolver em lojas tradicionais com interiores de valor histórico, em permanente colaboração com a Unidade de Projecto Baixa-Chiado e o então IPPAR.

Assim, na antiga alfaitaria Rosado Pires, na Rua Augusta, conseguiu-se convencer o novo proprietário a manter todo o interior intacto, utilizando a sua autenticidade como uma mais valia. Pena que, com o tempo, uma parte do mobiliário original tenha desaparecido e o interior tenha sido “funcionalizado”. O mesmo foi conseguido na Perfumaria Pompadour, com projecto de interiores de Raúl Lino (agora Swarovski /Rua Garret ) assim como na farmácia Normal na Rua da Prata.

Isto serve apenas para ilustrar que, embora estes processos tenham conhecido avanços e recuos paradoxais e inexplicáveis, existe uma base de conhecimento já considerável e aproveitável.

Um bom exemplo destes paradoxos constitui a recusa de classificação, por parte do IPPAR neste período, da Ourivesaria Aliança, juntamente com outros importantes estabelecimentos que constavam nos dossiers completos desenvolvidos pelo Núcleo dos Estudos do Património da CML.

No entanto, posteriormente, sobre a pressão da Opinião Pública e Comunicação Social, Manuel Salgado exigiu e garantiu a preservação deste notável e insubstituível estabelecimento.

A vigilância e o contacto entre os interessados é portanto fundamental.

Mas, e aqui chego ao objectivo deste artigo, há que manter objectividade e pragmatismo nos objectivos imediatos.

O acontecimento mais importante no que respeita a salvaguarda concreta perante a ameaça progressiva que constitui a Lei das Rendas, tomou lugar no Porto no Hotel Intercontinental, numa conferência intitulada Reabilitar para Revitalizar (PÚBLICO 20/09/2014) onde Rui Moreira exprimiu as suas preocupações de forma confrontadora perante uma assembleia de empreendedores e proprietários, ameaçando chegar ao ponto de expropriar edifícios, caso os insubstituíveis estabelecimentos históricos instalados no mesmos fossem ameaçados e consequentemente extintos, pelo aumentos das rendas.

Ora, finalmente, os proprietários das Lojas Tradicionais encontraram-se em Lisboa, e estabeleceram contacto através de uma plataforma de “cidadania”.

Se isto fizer algum sentido será, não apenas na troca de informações e de postais “culturais”, ficando “entretidos” num circulo inefectivo, enquanto a espada ameaçadora da Lei das Rendas continua a descer sobre as suas cabeças, mas precisamente numa acção coordenada e sistemática de forma a levarem  Medina e Salgado a tomarem uma posição explícita e pública de compromisso na defesa das Lojas Tradicionais, perante a ameaça crescente para a sua existência e sobrevivência, que a Lei das Rendas constitui.

Historiador de Arquitectura

Sugerir correcção
Comentar