Investigadores produzem fertilizantes e electricidade através da urina humana
Projecto em desenvolvimento há dois anos na Universidade do Minho é um dos muitos mostrados por estes dias no 1.º Festival Nacional de Biotecnologia, a decorrer em Lisboa.
Apenas utilizando a urina poderá, por exemplo, produzir-se energia para iluminação, para ligar electrodomésticos ou para accionar bombas de água em alguns países de África. Luciana Peixoto, uma das investigadoras ligadas ao projecto, diz que em países com pouco sol pode produzir-se, por exemplo, iluminação de jardim.
Em certas comunidades, diz, não só se elimina um possível foco de doenças, a urina, como se criam fertilizantes e ainda se produz electricidade. Segundo Luciana Peixoto, o interesse da NASA relaciona-se com o possível aproveitamento da urina dos astronautas para produzir fertilizantes para plantas no espaço.
A investigadora, do Centro de Engenharia Biológica, da Universidade do Minho, não sabe dizer a quantidade de urina necessária, mas garante que com 300 mililitros se conseguem produzir dois volts (o equivalente a uma pilha das mais pequenas, que põe a trabalhar um relógio de parede simples) contínuos durante 30 a 45 dias. Com cinco carrega-se um telemóvel, com 20 um computador.
O projecto, já com dois anos, tem parceiros a desenvolver a parte virada para a indústria, estando a decorrer uma fase de testes utilizando 300 litros de urina.
Um trabalho de investigação que, a par de dezenas de outros, está nesta sexta-feira e sábado a ser apresentado no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, no âmbito do primeiro Festival Nacional de Biotecnologia, uma iniciativa internacional coordenada pela Association of Science-Technology Centers e que tem estreia mundial em Portugal.
Rica em fósforo e matéria orgânica
A urina humana é muito rica em fósforo e matéria orgânica e "tem tudo o que precisamos para produzir fertilizantes e electricidade" explica Luciana Peixoto à agência Lusa, acrescentando que, além do fósforo, tem azoto, magnésio e amónio.
Para fazer o fertilizante a urina é deixada durante seis dias, adicionando-se depois magnésio para aumentar a velocidade de depósito. Após esse prazo há uma concentração rica em fósforo (excretado pela urina porque existe nos alimentos, muitos deles com fertilizantes a mais) e depois, em 30 minutos, esse concentrado é transformado em pó ou em grânulos, um fertilizante, segundo a responsável, mais rico em fósforo do que qualquer fertilizante comercial.
"Estamos a fazer testes toxicológicos e de germinação", diz a investigadora, mostrando pequenas caixas onde alfaces começam a germinar numa solução com o fertilizante feito a partir da urina. E acrescenta: "Acreditamos que iremos ter uma produção semelhante à de uma com o fertilizante comum".
Quanto à produção de electricidade, a explicação é muito mais técnica: "Com a urina que sobra, com grande fonte de carbono e glicose, introduzimos numa célula de combustível microbiana, com bactérias eletroactivas que degradam as fontes de carbono...".
Luciana Peixoto está entusiasmada. Acredita que "optimizando o sistema" chegará a uma produção assinalável de energia através da urina.
E mostra um pequeno led a piscar, accionado pela energia extraída de um pote com "lama do jardim". "Está a produzir assim continuamente há meses", diz, para logo acrescentar: "Mas a urina é muito melhor".