Câmara de Idanha-a-Nova apoia quem quiser “recomeçar” no concelho
Autarquia promete acompanhar e facilitar a vida aos "novos idanhenses" que queiram trocar as grandes cidades pelo campo.
"Recomeçar” é o nome do programa apresentado na quarta-feira, pelo município, em Lisboa, e que assenta na ideia de Idanha-a-Nova, situada a 2h30 da capital e a 4h de Madrid, como alternativa às grandes cidades. “Este programa ambicioso é ao mesmo tempo um grito para que o país olhe para o mundo rural com outros olhos”, diz Armindo Jacinto. Idanha-a-Nova é um dos municípios mais extensos do país mas tem vindo a perder habitantes: o Censos de 2011 identificou 9716 residentes, menos 2000 do que em 2001. O autarca socialista quer inverter a tendência de despovoamento e sublinha que a baixa densidade demográfica "não é uma desgraça, mas sim uma oportunidade".
O objectivo da autarquia é “criar condições” para que os “novos idanhenses” se fixem e, eventualmente, criem ou relocalizem os seus negócios. Segundo um estudo feito pela Bloom Consulting, consultora que está a acompanhar o programa, cerca de 60% da população de Lisboa gostaria de deixar a cidade, mais tarde ou mais cedo. "Idanha tem tudo o que os lisboetas procuram", garante Armindo Jacinto, destacando a riqueza natural da região inserida no Parque do Tejo Internacional.
Nos últimos meses, a câmara tem estado a preparar-se para receber os potenciais migrantes e ajudá-los a contornar os obstáculos que normalmente surgem neste tipo de processos. “Ajudamos os que aqui vivem, os que querem para cá vir e os que querem regressar”, afirma Armindo Jacinto, sublinhando que esta é uma estratégia “para os próximos dez anos”.
O programa “Recomeçar” assenta em quatro pilares, através dos quais estão a ser desenvolvidos 26 projectos. Um pilar é o Idanha Green Valley, através do qual estão a ser desenvolvidos projectos como a criação de um plano de apoio ao empreendedorismo. Ainda este ano deverá realizar-se um fórum mundial de projectos rurais, que atribuirá prémios a ideias que apostem na inovação em áreas como a agricultura biológica, que tem ganho importância na zona através da produção de mirtilos ou figos-da-índia.
Outro pilar é o Idanha Vive, no qual se concentram projectos focados na captação de talento e na formação em “ruralidade”. A câmara está a criar condições especiais para quem pretende viver no concelho, apoiando em áreas como a procura de habitação, a educação e a saúde. Para os “indecisos” criou o Idanha Experimenta, com projectos que incentivam acções de promoção de turismo e até a criação de um campo de férias rural, em que as pessoas são convidadas a experimentarem a vida no concelho de Idanha antes de uma mudança definitiva. Através do Idanha Made In pretende-se divulgar os produtos locais, nomeadamente através da criação de redes de comercialização internas e externas.
Nalguns casos a câmara poderá dar apoio financeiro, noutros logístico ou apenas funcionar como facilitadora no processo de mudança. “Também depende muito das verbas que conseguirmos angariar através do novo quadro comunitário de apoio”, explica. “Cada caso é acompanhado individualmente por um gestor dedicado, que vai responder a cada pessoa que nos contactar”, acrescenta.
Esta estratégia dá continuidade à campanha "Não emigres, migra" lançada pela câmara em 2012, com o objectivo de divulgar os apoios destinados sobretudo aos jovens empreendedores. Esta iniciativa deu origem a uma incubadora de empresas de base rural, na qual estão já fixados 50 negócios. Segundo o presidente da autarquia, nos próximos dois a três anos deverão ser criadas nesta incubadora 700 a 1000 postos de trabalho.
Casos de sucesso
Para provar que é possível “Recomeçar” em Idanha-a-Nova, a câmara levou até Lisboa quatro casos de sucesso. Um deles é o de Isménia Araújo, de 32 anos. Natural de Viana do Castelo, viveu 22 anos na capital e foi “apanhada” pelo encanto da região numa visita pela Rota das Aldeias Históricas, na qual se incluem Monsanto e Idanha-a-Velha. Mudou de vida: estabeleceu-se com a família em Idanha-a-Nova, criou um projecto de agricultura biológica “sem nunca ter plantado uma couve”, acabou os estudos e hoje coordena a rede de creches Idanha + Bebé, que está em expansão. “Temos bebés em lista de espera”, diz o autarca.
Outro exemplo é o de Jorge Van Krieken, 57 anos. Era jornalista em Lisboa mas em Idanha encontrou condições para realizar um sonho: construir casas “sustentáveis” com materiais como a cortiça, madeira e argila. “Deus quis, eu sonhei, a câmara deu um empurrão e a obra nasceu.” Estas habitações, que se constroem numa semana e custam 20 a 30 mil euros, poderão ser a casa dos “novos idanhenses” que venham a fixar-se no concelho.