Um grande actor

Mark Rylance é o melhor actor inglês deste século, até agora.

Hoje em dia os ingleses e americanos, sensatamente, dizem actors (como sempre disseram directors ou editors ou cinematographers), em vez de actors e actresses. O sufixo -esse é repugnante em inglês ("steward/stewardesse") porque vem do francês em que maître quer dizer uma coisa (mestre, sobretudo) e maîtresse quer dizer outra coisa (amante adúltera, entre outras coisas menos machistas).

Mark Rylance é um desses raríssimos grandes actores. Os actores à volta dele parecem sempre apanhados num turbilhão de over-acting, mas é tal a delicadeza e a solidariedade dele que tudo faz, como um dos mais falhados shakespearianos do nosso tempo, para unificá-los, apagando-os generosamente.

É o contrário de outro grande actor inglês do teatro — Simon Russell Beale que, cada vez que se extravia para a televisão e para o cinema, continua a agir como se estivesse sobre um palco. Fica histriónico, antiquado e show-off.

Mark Rylance é o melhor actor inglês deste século, até agora. Vi-o este mês em dois episódios de Wolf Hall, a série da BBC 2 adaptada de dois livros de Hilary Mantel, com guião de Peter Straughan e realização de Peter Kosminsky.

O Thomas Cromwell dele (não confunda, como eu confundi, com Oliver Cromwell) é um retrato de cuidado, inteligência e civismo. Rylance é o perfeito camaleão.

Não há maior sinal de um grande actor.

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