A Matemática serve para quê? Olha, serve para saber com quantas te apanham bêbado
Mostrar que a Matemática é muito mais do que um bicho-de-sete-cabeças é o que leva o Instituto Superior de Engenharia do Porto a receber, fora de horas, alunos do ensino secundário.Todas as quintas-feiras até Março, a noite será reservada a uma matemática séria, mas ao mesmo tempo divertida.
Ao contrário de uma sala de aula normal, em que as mesas são individuais ou aos pares, aqui os estudantes puderam agrupar-se em mesas redondas de cinco lugares, num ambiente mais descontraído. Os habituais cadernos e porta-lápis foram substituídos por algo pouco comum no mundo escolar. Para ilustrar uma aula em que o tema foi o cálculo da taxa de alcoolémia no sangue, sobre as mesas encontravam-se garrafas de álcool vazias, desde o vinho à cerveja.
Após a explicação teórica da matéria, dada por uma docente de matemática do ISEP, é hora de pôr mãos à obra e realizar um exercício prático. Na mesma mesa, quatro alunas já terminaram o exercício. Maria João, Filipa, Inês e Rita estão apenas no 10º ano do Curso Científico-Tecnológico e ainda têm algumas dúvidas do que querem seguir no futuro, ainda que apontem áreas como a Medicina, a Engenharia ou a Medicina Dentária. O gosto pela matemática sempre existiu, mas nem sempre com a noção de que esta ciência pode ser útil no quotidiano. “Às vezes fazemos uns cálculos que achamos que nunca vão servir para grande coisa, mas aqui notou-se que afinal até se usa”, afirma Rita.
Embora não vejam a matemática com maus olhos, as estudantes admitem que é assim que a maior parte dos jovens encara a disciplina. “Por norma, quase ninguém gosta de Matemática porque é uma coisa que é preciso exercitar muito para se conseguir fazer. E a maior parte das pessoas não tem paciência para isso e diz que é uma seca”, explica Filipa.
Alexandre e Rúben pensam que o interesse pela matemática têm de ser incutido desde cedo e que o professor é fundamental para conseguir prender a atenção do aluno. Os estudantes divertiram-se com o cálculo da taxa de alcoolémia, mas continuam com a opinião que nem tudo na matemática é aplicável no dia-a-dia. “Há muitas matérias que têm interesse, mas há determinadas que olhamos e, mesmo depois da actividade, pensamos que não vão servir para nada”, diz Alexandre.
Desmistificar o conceito de uma disciplina complicada foi o desafio do ISEP e da Câmara Municipal do Porto ao continuar com o “Matemática Fora de Horas”. O ambiente é descontraído e permite aos alunos e professores um convívio no final dos exercícios. Amélia Caldeira é professora no Departamento de Matemática do ISEP e confirma que após uma 1ª edição com bastante adesão, houve a possibilidade de continuar a mostrar que a matemática está em todo o lado. “O objectivo do programa é exactamente mostrar que esta é uma ciência viva que tem aplicações e que aqueles conceitos que eles aprendem nas aulas realmente podem aplicar em coisas quotidianas, do dia-a-dia”, explica a coordenadora do projecto.
O lema é descomplicar uma matéria que, na opinião de Amélia Caldeira, já é vista de forma negativa desde “os tempos antigos”. “Julga-se sempre compreensível ter negativa a Matemática e isso não pode ser porque, no fundo, a matemática gere o mundo”, afirma a professora.
Da mesma opinião é João Rocha, presidente da instituição que esteve presente na aula inaugural da 2ª edição do projecto. O professor explica que, ao serem apresentados modelos palpáveis e concretos da realidade, é possível ajudar os alunos a “perder o medo” e a perceber que a “matemática está em tudo que se faz”.
Além de apresentar a alunos dos diversos agrupamentos de escolas da cidade uma forma mais dinâmica de encarar a matemática, o objectivo passa por aproximar os estudantes das áreas científicas e tecnológicas que, de acordo com o presidente do ISEP, são áreas com “uma maior possibilidade de aceder ao mercado de trabalho” e “fundamentais para o progresso e desenvolvimento do país”.
Após os exercícios, a aprendizagem dá lugar ao convívio entre professores e estudantes, com a Tuna Académica do ISEP que apresenta alguns temas e ilustra a tradição e a diversão académica do mundo universitário. As bebidas alcoólicas são substituídas pelos sumos e águas fornecidos pela Unicer, num momento descontraído e informal, com música, palmas e algumas gargalhadas.
E como as festas académicas são sempre significado de alguns excessos, dois oficiais da GNR entram em acção e convidam os estudantes a aplicarem a matéria há instantes estudada. Ainda que as bebidas alcoólicas tivessem sido apenas a brincar, alguns alunos oferecem-se para fazer o teste do balão. A polícia alerta para a prevenção e responsabilidade da condução e explica aos alunos os valores permitidos para conduzir.
Quem marcou presença na aula fora de horas foi Guilhermina Rego, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto e responsável pelo Pelouro da Educação, Organização e Planeamento, que explica ao PÚBLICO que o município, através do programa “Matemática Fora de Horas”, pretende cativar os alunos de uma forma menos convencional que o habitual. “Procurar estimular e procurar que haja um sentimento positivo em relação à matemática, quebrar essa conotação negativa, quebrar a ideia de que a matemática vai fazer com que os alunos chumbem, não entrem na faculdade”, justifica Guilhermina Rego.
Para além do programa fora de horas, em Setembro decorreu o “Matemática por onde andas?” para alunos do 1ºano do ISEP e entre Abril e Maio vai decorrer pela cidade a 3ª edição do “Matemática Fora de Portas”, direccionado a alunos mais novos que ocuparão espaços emblemáticos da cidade como a Avenida dos Aliados, a Rotunda da Boavista e o Jardim dos Sentimentos do Palácio de Cristal.