2015, festejar independências. A primeira coisa que me ocorre agora que 2015 deixou de ser o futuro que nos regia e no qual projectámos muitos dos nossos planos imediatos, como o de voltar ao ginásio, terminar o romance ou o simpático anseio de visitar os parentes que carregam o mesmo sobrenome que o nosso fora das datas sacramentadas para o efeito. Sossega cronista, confesso eu para os meus botões, ainda estamos a digerir a ceia de Natal, ainda os enfeites não voltaram para a caixa dos arrumos, ainda os pinheiros não foram parar ao lixo e já estás tu, enternecido pelas festividades do nascimento do menino Jesus, a construir cenários que dificilmente se irão materializar. Mas não custa começar o ano com um pinguinho de optimismo; fica-nos sempre bem.
Antes que comecemos a polvilhar este ano com promessas vãs que vão certamente transitar imaculadas para o ano seguinte, a primeira coisa que temos que interiorizar é que este, assim como os anos anteriores, não nos pertenceu. Fomos e somos meros espectadores. Os nossos medos – que nem são bem os nossos (e falo da minha geração aqui) mas sim os dos nossos pais –, para a nossa desgraça, são os bilhetes de camarote para esse espectáculo que é as nossas vidas, o nosso tempo. E resmungamos e tal e tal, mas no fim aceitamos sermos conduzidos para esse lugar, sentar a bunda na bancada e fazer como qualquer claque: assobiar quando se sente ultrajada e gritar euforicamente quando nos é dada a alegria do “golo”.
Tudo porque nos preocupa o futuro, a segurança. Sentimos um arrepio inexplicável quando nos falam de reforma. As noticias, de tão reais que são, parecem ficção. Em quem vamos acreditar se aparentemente todos os políticos são iguais? O que significa afinal imigração, o que querem os chineses, o que são os visto Gold? E os generais angolanos e a família Dos Santos, o que procuram? O problema é do povo angolano que se sente esquecido ou dos portugueses que todos se lembram de atormentar? O que significa o colonialismo invertido afinal, o que foi o colonialismo quando Portugal era esse grande império que aprendemos nos livros de história nem eu era nascido?
2015 para nós, africanos, é um ano de celebração: pela primeira vez na nossa história, todos os países de língua oficial portuguesa estão em paz. Parece coisa pouca, e não me esquivo do facto de que ainda nos faltam tantas conquistas... Esta palavras surgem-me no momento em que arroto o champanhe da passagem de ano, passada no Algarve, esse pedaço de chão que me comove por variadíssimas razões e todas elas ligadas a África, mas que, pelo limite de caracteres que me é reservado, me escuso a enumerar na sua totalidade, recuando apenas ao mês de Janeiro de 1975.
Há 40 anos, líderes dos três principais movimentos de libertação de Angola, MPLA, FNLA e UNITA, não muito longe do local onde me encontro, no Alvor, assinaram no dia 15 de tão alegórico ano, os parâmetros para a partilha do poder, após a conquista da independência de Angola. O Acordo do Alvor: vamos celebrá-lo? E, já agora, nos planos de festividades, que espero que se estenda pelos 362 dias que temos pela frente, não nos esqueçamos de incluir as independências do 25 de Junho, do 12 de Julho, do 11 de Novembro e também o 16 de Setembro, a data em que, respectivamente, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe foram admitidos como membros da Nações Unidas. E, porque em matéria de desejos não temos por que ser parcos, que tal ter como palco a Avenida da Liberdade.