Portugal tem dos maiores consumos de tranquilizantes da União Europeia
A resposta dos serviços na área da saúde mental continua a ser insuficiente, diz
“Temos dos maiores consumos de tranquilizantes, sobretudo de benzodiazepinas [fármacos ansiolíticos utilizados no tratamento de situações de ansiedade e insónias], a nível da UE e, contrariamente ao que se passou nos outros países, em que esse consumo tem vindo a reduzir com o aumento do consumo dos antidepressivos, em Portugal tem continuado a aumentar”, disse Álvaro Carvalho à Lusa. O director do Programa Nacional para a Saúde Mental da DGS deslocou-se a Castelo Branco para participar num simpósio da Associação de Apoio e Estudo às Psicognosis na Raia Central (ASPSI).
O aumento do consumo de antidepressivos também “tem sido significativo” no país, explicou o responsável da DGS. Contudo, sublinhou, quando comparado com outros países da UE, “embora em Portugal tenha vindo a aumentar, não está longe das médias de outros países europeus”.
“Neste âmbito, até ver, não me parece que haja sinais para alarme, mas com as benzodiazepinas sim”, adiantou Álvaro Carvalho. “Temos que rapidamente aumentar a educação médica neste âmbito e da população, porque sabemos que muitas vezes há a disponibilização destes fármacos sem ser por prescrição médica”, defendeu.
O responsável explicou ainda que, brevemente, vai ser publicada uma análise na segunda edição do “Portugal, Saúde Mental em Números”, onde será feita “uma primeira análise de quem consome o quê e de quem prescreve o quê”.
O responsável admitiu ainda que a resposta dos serviços na área da saúde mental continua a ser insuficiente. Concordo inteiramente [que a resposta é insuficiente] e tanto concordo que um dos pontos maiores do desenvolvimento de toda a proposta [do Plano Nacional de Saúde Mental] vai exactamente no sentido de aprofundar e desenvolver a articulação com os cuidados de saúde primários, isto no conceito de saúde mental”, referiu Álvaro Carvalho.
Para o responsável, aos poucos, foi sendo aceite pelos profissionais médicos que há situações, normalmente as mais frequentes, “que são perfeitamente resolúveis a nível dos cuidados de saúde primários (medicina geral e familiar), e para os especialistas apenas devem ficar os casos mais complexos”.
“Com o desenvolvimento do conceito de saúde mental, que integra a psiquiatria e a psiquiatria infantil, mas que não se esgota nos especialistas (inclui enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais), foi sendo notório que era fundamental essa proximidade entre serviços de saúde mental e os cuidados de saúde primários”, adiantou.