Exército iraquiano quebra o cerco do Estado Islâmico à cidade de Amerli
“Washington tem de decidir se quer conter o Estado Islâmico ou destruí-lo”, disse um analista americano. “Se realmente o quer destruir, tem que de se comprometer mais".
A cidade tem uma maioria de turcomanos xiitas, considerados apóstatas pelos radicais islamistas do EI, que têm conseguido conquistar território na Síria e Iraque perseguindo xiitas, cristãos, yazidis e quem quer que pense de modo diferente. O estado de terror que instauram, com as Nações Unidas a denunciar execuções públicas frequentes em localidades que controla, tem ainda servido de íman para atrair combatentes ocidentais – americanos, canadianos, alemães, franceses (ainda este domingo foram detidas duas francesas que se preparavam para viajar para a Síria para ajudar os jihadistas).
"As forças de segurança e combatentes das milícias estão dentro de Amerli depois de quebrarem o cerco e isso vai certamente diminuir o sofrimento dos habitantes", disse o presidente da câmara, Adel al-Bayati.
Os soldados iraquianos apoiados por elementos de milícias xiitas e combatentes peshmerga (curdos) capturaram 15 combatentes do EI nos combates a cerca de 170 quilómetros de Bagdad.
A operação para chegar à cidade foi considerada a de maior envergadura desde que os jihadistas começaram a progredir no terreno ,em Junho, e arrancou com a abertura de duas frentes de ataque contra o EI.
A ONU tinha alertado para o risco de ocorrer um massacre em Amerli se o Estado Islâmico conseguisse tomar a cidade que fica no Curdistão iraquiano.
Habitantes expressaram alívio pelo fim do cerco, rompido pelo Leste da cidade, embora ainda houvesse combates no Norte de Amerli. "Consigo ver tanques do exército iraquiano", disse um residente, Amir Ismael, à agência Reuters. "Estou muito feliz por nos termos visto livres dos terroristas do Estado Islâmico que ameaçavam chacinar-nos."
Na mesma altura que os americanos bombardearam as posições do EI, foi lançada ajuda humanitária francesa e australiana sobre a cidade. Na localidade havia já falta de comida e água.
Enquanto os Estados Unidos debatem o que fazer contra a ameaça do Estado Islâmico – tanto dentro do Iraque e da Síria como no seu próprio território – estes adapatam-se facilmente a novas condições.
Após os ataques aéreos norte-americanos, diz a agência Reuters, os combatentes evitam cada vez mais os veículos tipo militar que os tornariam alvos de raides americanos, e tentam misturar-se com residentes das cidades que controlam. Esta rapidez de mudança do EI, que contará com uma força entre oito mil e 20 mil combatentes (estimativa do Governo de Bagdad), sublinha a magnitude do desafio.
Os ataques aéreos norte-americanos foram essenciais para afastar os islamistas de um ganho importante – a barragem de Mossul que os faria controlar energia – e agora o cerco a Amerli, mas não serão suficientes para derrotar o movimento. "Washington tem de decidir se quer parar e conter o Estado Islâmico ou destruí-lo", comentou Hayat Alvi, professor de estudos de Médio Oriente na U.S. Naval War College de Newport, em Rhode Island (EUA), à Reuters. "Se realmente querem destruir o Estado Islâmico e impedirem-no de ser uma ameaça, têm de se comprometer mais", provavelmente com ataques aéreos na Síria.
Os EUA debatem ainda o que fazer com os seus cidadãos com livre trânsito para a Síria onde treinaram com os combatentes do EI. Em Maio, um homem de 22 anos da Florida levou a cabo um atentado suicida na Síria. "Temos o bombista suicida americano radicalizado, que veio visitar os pais, voltou e depois se matou. Isso poderia ter acontecido aqui nos EUA", comentou o democrata da comissão de informação da Câmara dos Representantes, Dutch Ruppersberger. Haverá cerca de sete mil combatentes estrangeiros nos grupos extremistas na Síria - destes, centenas de americanos, 500 britânicos, pelo menos 400 alemães, e ainda franceses e canadianos nas fileiras do EI.