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Kerry busca coligação global para erradicar a “praga” do Estado Islâmico

Para derrotar esta "agenda genocida", serão usados "todos os instrumentos políticos, humanitários, económicos, de segurança e informação, em apoio da força militar".

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Famílias de soldados libaneses capturados pelos islamistas exigem a sua libertação REUTERS/Stringer

Num artigo publicado em The New York Times, Kerry revelou que a Administração está a forjar uma “coligação global” para erradicar o “cancro” jihadista (palavras suas), cujo perigo extravasa as fronteiras da Síria e do Iraque e ameaça o Médio Oriente e todos os “países civilizados”.

“Nesta batalha, todos os países jogam um papel”, considerou Kerry, que assumirá os esforços diplomáticos para o estabelecimento de uma “coligação global”, que usará “todos os instrumentos políticos, humanitários, económicos, de segurança e informação, em apoio da força militar”, para confrontar e derrotar “a visão niilista e a agenda genocida” dos extremistas islâmicos.

O mesmo tom de emergência foi deixado, em Londres, pelo primeiro-ministro britânico David Cameron, que solidificou a ideia do perigo civilizacional representado pelos jihadistas ao elevar o nível de alerta do país para “severo”, o segundo mais grave em termos de segurança nacional. A medida, explicou, é uma precaução face à “elevada probabilidade” de um atentado terrorista em território britânico, onde um número significativo de cidadãos nacionais tem aderido às fileiras do EI. “Este não é um conflito a milhares de quilómetros de casa que podemos tentar ignorar”, justificou.

Kerry está de partida para a Europa, acompanhado pelo secretário da Defesa, Chuck Hagel, onde apresentará o plano de acção americano aos aliados europeus, à margem da cimeira da NATO do País de Gales. Daí, segue para o Médio Oriente: até agora, os esforços do chefe da diplomacia norte-americana na região tinham-se revelado infrutíferos, mas este sábado, o rei Abdullah da Arábia Saudita confirmou a participação do seu país na tal “frente internacional unida” para combater aos radicais do EI mencionada por Kerry.

No entanto, os desafios para a formação da “coligação” são tremendos: Kerry precisa de gerir animosidades históricas de países como o Irão e a Turquia, e a rivalidade interna dos seis membros que formam o Conselho do Golfo, nomeadamente o confronto aberto entre a Arábia Saudita e o Qatar.

As movimentações diplomáticas sucedem-se com o pano de fundo de novos actos de extrema violência dos extremistas do EI. Este sábado, os jihadistas divulgaram um novo vídeo de decapitação: desta vez, a vítima foi um soldado libanês que fazia parte de um grupo de 19 homens capturados pelos islamistas sírios que este mês ocuparam brevemente a localidade de Arsal, na zona de fronteira mas já do lado do Líbano.

O soldado foi identificado como Ali al-Sayyed, um sunita do Norte do Líbano. As imagens mostram-no vedado e com as mãos amarradas, deitado no chão, enquanto um militante de cara tapada anuncia a sua morte. Um outro homem executa depois da decapitação. Horas mais tarde, os jihadistas publicaram um segundo vídeo, mostrando outros nove soldados libaneses, que pedem às suas famílias para saírem à rua e exigir a libertação dos rebeldes capturados pelo Exército libanês Emad Gomaa, que trocou a Frente al-Nusra pelo EI. Essa é a condição, informam, para escapar ao mesmo destino do seu camarada de armas.

Uma reportagem da CNN revelou ainda que os militantes do Estado Islâmico estão a vender raparigas e mulheres da minoria yazidi raptadas no Iraque, a combatentes extremistas da Síria. A estação norte-americana cita o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma organização sedeada em Londres, que documentou pelo menos 27 casos de casamentos forçados nas cidades de Alepo, Raqqa e Al-Hassakah. Mas o número pode ascender a mais de 300, estima a CNN. As mulheres, que são anunciadas como “espólios da guerra contra os infiéis”, e que se terão convertido ao islão, estarão a ser vendidas pelo preço de mil dólares, avança o Observatório sírio.

As decapitações, crucificações, violações e outras atrocidades cometidas contra minorias étnicas e religiosas pelos homens do EI foram evocadas pelo secretário de Estado dos EUA como uma das razões para a “resposta unificada de uma coligação de nações”. “Nenhum país decente pode apoiar estes horrores perpetrados pelo EI e nenhum país civilizado pode furtar-se à responsabilidade de ajudar a acabar com esta doença”, escreveu John Kerry em The New York Times. “O mundo pode confrontar e vencer esta praga. O EI é abominável, mas não omnipotente”, considerou.

Num artigo concorrente, os senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham, atacam a resposta da Casa Branca à ameaça do EI e advogam uma acção militar imediata – se os extremistas se afirmam como uma força militar, “é militarmente que devem ser confrontados”, sustentam. “Fazer pouco para combater o EI é o problema. A resposta não pode ser fazer ainda menos”, criticam os senadores, referindo-se às declarações de Obama.

Entretanto, o primeiro-ministro britânico David Cameron comprometeu-se a apresentar, já segunda-feira, um novo pacote de medidas de contra-terrorismo destinadas a garantir a segurança interna e a prevenir a participação de britânicos nas acções violentas do EI. Essas medidas contemplam, por exemplo, a apreensão de passaportes para impedir que os britânicos ligados a movimentos extremistas possam viajar até à Síria ou ao Iraque e juntar-se às fileiras jihadistas.

Antecipando-se ao seu rival político, num artigo de opinião no jornal The Independent , o líder da oposição trabalhista, Ed Miliband, também defendeu que aqueles que regressam ao país vindos desses destinos cumpram um processo de “des-radicalização”.
 

   

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