Cronologia da derrocada do BES

Três meses que ficaram marcados pelos prejuízos de 3500 milhões do BES.

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Ricardo Salgado apresentou resultados Rui Gaudêncio

15 de Maio 2014

- A Espírito Santo Financial Group (ESFG) e o grupo francês Crédit Agrícole anunciam ao mercado a dissolução da holding BESPAR, através da qual controlavam o BES, passando a ter participações directas no banco, de forma a simplificar a estrutura accionista. A extinção da BESPAR foi o ponto de partida para o fim da aliança entre a família Espírito Santo e o parceiro histórico banco francês. Em Novembro de 2013, após uma luta de poder em que foram tornadas públicas as desavenças entre Ricardo Salgado e José Maria Ricciardi, os dois primos emitiram uma declaração conjunta onde anunciavam um entendimento sobre o processo de sucessão na liderança do grupo.

21 de Maio

- É publicado o prospecto relativo ao aumento de capital do BES que revela várias informações relativas ao universo Espírito Santo.

O prospecto do aumento de capital de 1045 milhões de euros do BES, divulgado no regulador, revela que a auditoria pedida pelo Banco de Portugal (BdP) às contas da ESI, de 30 de Setembro de 2013 e 31 de Dezembro de 2013, "apurou irregularidades nas suas contas e concluiu que a sociedade apresenta uma situação financeira grave".

A comissão de auditoria da Espírito Santo Financial Group (ESFG) "identificou igualmente irregularidades materialmente relevantes nas contas" da 'holding'.

Por imposição do BdP, a ESFG inscreveu uma provisão extraordinária de 700 milhões de euros nas contas de 2013. A preocupação do supervisor era de que várias empresas não financeiras do GES, caso da ESI, não tivessem capacidade de reembolsar o papel comercial colocado junto de clientes do BES. O prospecto do aumento de capital refere ainda que a ESI tem "em marcha um programa de reorganização do seu grupo e de desalavancagem" para "reequilibrar a sua situação financeira" e "proceder ao reembolso do passivo".

Há também menções aos problemas do BES Angola e refere o alegado envolvimento do banco da Florida (EUA) em “actividades ilícitas” e alegadas violações da lei de branqueamento de capitais pelas quais o banco foi multado em 1,2 milhões de euros e que contestou.

Somam-se-lhes a “necessidade de revisão de procedimentos” na prevenção do branqueamento de capitais na sucursal do BES de Londres e as buscas da Autoridade da Concorrência a vários bancos em Portugal para recolher provas sobre troca de informação sensível.

O documento aborda processos de inside trading sobre administradores e quadros do BES, mas sem referir nomes.

27 de Maio

O BES é autorizado a arrancar com um aumento de capital de até 1045 milhões de euros, marcado pelo prospecto que inclui irregularidades nas contas da
holding ESI.

11 de Junho

O aumento de capital é totalmente subscrito com a procura a superar a oferta.

17 de Junho

As novas acções começam a ser negociadas. O objectivo da operação foi reforçar os rácios de capital do banco, que será um dos bancos portugueses submetido aos exercícios do BCE (Banco Central Europeu).

10 de Julho

A ESFG anuncia pela manhã a suspensão da negociação de acções e obrigações da empresa em Lisboa e no Luxemburgo, devido a “dificuldades materiais em curso", especialmente do seu maior accionista, a ESI.

Os receios em torno da solidez financeira do GES ganharam força após ter sido noticiado que a subsidiária Banque Privée Espírito Santo estava em incumprimento no reembolso a alguns clientes que tinham aplicações em dívida e que a ESI estava a avaliar um pedido de insolvência.

À noite, o banco emite um comunicado garantindo que as potenciais perdas resultantes da exposição ao GES não punham em causa o cumprimento dos rácios de capital - detinha 2,1 mil milhões de euros acima do rácio mínimo regulamentar e uma exposição de 1,18 mil milhões de euros ao grupo.

11 de Julho

A Comissão Europeia diz acreditar que o sistema financeiro português tem actualmente capacidade para gerir de “forma atempada e eficaz” problemas como a crise que afecta o GES.

Os principais jornais económicos europeus noticiaram nas suas edições em papel os problemas que vive o GES e o impacto que os mesmos tiveram nos mercados na véspera, mas o BdP veio a público descansar os depositantes do BES, seguido pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que afastou a necessidade de uma intervenção estatal no grupo.

A meio da manhã, a CMVM levanta a suspensão da negociação das acções do BES, mas os títulos afundam no seu regresso à negociação, registando a maior queda da sessão, pelo que o regulador estendeu logo após a proibição de vendas a descoberto das acções do banco por mais dois dias úteis.

A Moody's anuncia o corte do 'rating' da dívida de longo prazo do BES em três níveis e dos depósitos de longo prazo do banco em dois níveis, devido às preocupações sobre a capacidade de crédito, agravadas pela "falta de transparência em relação à autonomização do BES" face à ESI.

14 de Julho

Vítor Bento, líder da SIBS (entidade que gere o Multibanco), é o novo presidente executo vdo BES, cargo para o qual é cooptado. O mesmo acontece com José Honório, ex-presidente executivo da Portucel, e João Moreira Rato, presidente do Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP), que assumem as cadeiras de vice-presidente e de administrador financeiro, respectivamente. Ricardo Salgado perde a liderança do banco após cerca de duas décadas.

17 de Julho

A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, garante no Parlamento que a nacionalização está totalmente posta de parte pelo Governo e que não está em curso nenhum plano de recapitalização do BES com capitais públicos.

18 de Julho

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, diz no Parlamento que as irregularidades nas contas de empresas do GES só foram descobertas porque o regulador saiu da sua área restrita de supervisão.

A ESI informa que se candidatou ao regime de gestão controlada no Luxemburgo por não estar “em condições de cumprir as suas obrigações”, quanto ao pagamento das dívidas.

22 de Julho

A Rioforte Investments apresenta um pedido de sujeição ao regime de gestão controlada ao abrigo da lei luxemburguesa.

O ESFG abandona o PSI20, o principal índice da bolsa portuguesa, devido "à extensão do período de suspensão" da negociação dos seus títulos desde 10 de Julho.

23 de Julho

- O Ministério Público faz buscas à sede do Grupo, onde funciona o conselho superior no qual estão representados os cinco ramos da família e visitou sociedades ligadas à família e empresas com relações comerciais com o GES. Do outro lado do Atlântico, os supervisores financeiros norte-americanos voltaram ao BES Miami.

 - O Tribunal do Comércio do Luxemburgo aprova o pedido de gestão controlada apresentado pela ESI.

24 de Julho

- Ricardo Salgado é constituído arguido e ouvido pelo Tribunal Central de Instrução Criminal, no âmbito da operação Monte Branco, que investiga a maior rede de branqueamento de capitais em Portugal, depois de ter sido detido na sua casa, em Cascais.

 - A ESFG apresenta um pedido de gestão controlada aos tribunais do Luxemburgo por “não estar em condições de cumprir as suas obrigações” relacionadas com dívidas.

28 de Julho

- O Banco de Portugal emite um comunicado onde diz que, caso haja insuficiências de capital no BES, “o interesse demonstrado por diversas entidades em assumirem uma posição de referência no BES indicia que é realizável uma solução privada para reforçar o capital”.

29 de Julho

- A assembleia geral extraordinária que estava marcada para dia 31 é desmarcada, no mesmo dia em que o Tribunal do Comércio do Luxemburgo anuncia ter aceite o pedido de gestão controlada apresentado pela ESFG (a dona de 20,1% do BES), tal como o da Rio Forte. No caso a ESFG, a decisão judicial será conhecida a 6 de Outubro. As acções caem 10,6% e passam o patamar dos 40 cêntimos. O capital da PT (10,06%) passa a estar imputado directamente ao BES.

30 de Julho

- O BES apresenta o maior prejuízo de sempre na história da banca, no valor de 3577,3 milhões de euros, não obstante ser a divulgação de resultados semestrais. Há um novo “buraco” de 1500 milhões, e a almofada de liquidez mostra-se insuficiente para manter o nível de rácios exigido. O custo com imparidades e contingências é de 4253,5 milhões de euros. O Banco de Portugal inibe os direitos de voto da ESFG no BES e fala de “actos de gestão gravemente prejudiciais para os interesses do BES e um claro incumprimento das determinações” do regulador.

31 de Julho

- O Banco de Portugal, a gestão encabeçada por Vítor Bento e o Governo desenham o futuro do BES e analisam a necessidade de apoios públicos. As acções chegam a cair 50% e fecham nos 20 cêntimos.

1 de Agosto

 - Os títulos do BES continuam em queda livre. Cerca de uma hora antes do fecho do mercado, a CMVM interrompe a negociação, quando as acções estavam a cair 50%, para os 12 cêntimos. O regulador do mercado de capitais diz estar à espera de “informação relevante”, que, neste caso, é o plano de recapitalização.