Novos Realismos e Johan Van Der Keuken assinalados no mapa do DocLisboa 2014

Estão a ser apresentados hoje, no S. Jorge, em Lisboa, os primeiros destaques do festival que se realiza em Outubro: do neo-realismo italiano até aos nossos dias, eis uma proposta de leitura de uma geografia e de uma história do cinema; ainda uma retrospectiva dedicada ao holandês Johan Van Der Keuken.

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Em "L'Amore in Città" um grupo de cineastas adoptou o modelo do "jornal de actualidades" para "representar um povo e as questões sociais e políticas"

Inquérito à prostituição em Roma, um face a face com os protagonistas de tentativas de suicídio, as aragens de sensualidade das raparigas que fazem girar a cabeça dos homens nas ruas, as salas de baile e os aromas amororos nas periferias ...  é o amor na cidade, protagonizado por gente arrancada à vida e não vivido por gente do cinema. Em L'Amore in Città um grupo de cineastas adoptou o modelo do "jornal de actualidades", como diz Cíntia Gil, para "representar um povo e as questões sociais e políticas" mas simultaneamente abrindo espaço a uma "construção poética". É um dos títulos da retrospectiva Neo-Realismo e Novos Realismos que o Doc (16-26 de Outubro) vai apresentar na próxima edição.

A lista de títulos, que não estará ainda fechada, é uma "proposta de leitura de uma geografia e de uma história do cinema": começará nesses anos do neo-realismo e chegará até aos nossos dias, chegará ao Irão ou à Roménia, passando pelos anos 60 britânicos. Nos filmes do neo-realismo, nas suas lindíssimas contradições (que se mantiveram, visceralidade e fantasia, nesse diálogo global com o público que constituiu, nos anos 60 e 70, a "comédia à italiana"), estava já essa possibilidade de o real se agarrar ao cinema e simultaneamente ser construído pela poética de cada cineasta (veja-se como em L'Amore in Città estão realizadores, Fellini e Antonioni, por exemplo, que depois dariam largas ao seu mundo interior). É isso que Neo-Realismo e Novos Realismos quer dar a ver: "como em diferentes regiões do globo diferentes questões políticas e sociais" permitiram trabalhar aquelas propostas iniciais do realismo.

É uma retrospectiva que será transportada para outra secção do festival - aliás denominada Passagens - que apresentará no Museu da Electricidade – Fundação EDP a exposição “Gente de Terceira Classe – Fotografia e Realismos”, comissariada por Emília Tavares (de 9 de outubro de 2014 a Janeiro de 2015). E é uma retrospectiva que poderá rimar e criar dissonâncias, como se quiser sentir, com outra retrospectiva anunciada para a edição 2014, a dedicada ao holandês Johan Van Der Keuken, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa. É aí que Van Der Keuken se mantém em foco até Novembro.

Cíntia Gil diz, por exemplo, que se nas duas retrospectivas está sempre em causa o questionamento do lugar do artista no mundo, há uma "circunstância global" no trabalho de Van Der Keuken, o realizador de Amsterdam Global Village (1996), enquanto que em Neo-Realismo e Novos Realismos a "circunstância local", os diferentes presentes e lugares, determina o olhar.

Novidades ainda: dois novos espaço de exibição do Doc, o Cinema City Campo Pequeno e o (a inaugurar em Agosto) Cinema Ideal, junto ao Largo de Camões, no Bairro Alto, que se juntam às salas da Culturgest, do Cinema São Jorge, da Cinemateca e do Fórum Municipal Romeu Correia em Almada. Diz Cintia Gil que não se acrescenta apenas, também se vai trabalhar, nesta edição, a relação de uma programação com os espaços em que é exibida: cada sala, desde logo, éo rosto de uma determinada proposta que entra em diálogo com outras propostas e filmes. E os públicos que circulem entre eles.

 


 

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