Treinadores repetentes, uma tradição brasileira
Vanderlei Luxemburgo vai comandar o Flamengo pela quarta vez. Mas não é caso único. Na Série A do Brasileirão, há sete técnicos que com passagens múltiplas pelo mesmo clube.
Luxemburgo, de 62 anos, é um dos mais titulados treinadores do futebol brasileiro, campeão por cinco vezes, mas nenhuma pelo Mengão, por onde passou em 1991, 1995 e entre 2010 e 2012. No último emprego que teve, em 2013 Luxemburgo esteve a maior parte do ano numa péssima época do Fluminense, que só não deu despromoção devido a uma decisão judicial que penalizou a Portuguesa dos Desportos. “Em vez de contratar o advogado do Fluminense que tirou o tricolor da segunda divisão, o Flamengo contratou o treinador que o deixou rebaixado. E você quer saber porquê? Pois eu não sei”, questionava Juca Kfouri, colunista do jornal “Folha de São Paulo”, no seu blogue.
A missão imediata de Luxemburgo é arrancar o Flamengo do último lugar do Brasileirão, depois do desastroso início de época com Ney Franco, e repetir o feito de 2010, em que também apanhou o Mengão em zona de despromoção e o conduziu ao 14.º lugar. O Flamengo não é o único clube brasileiro por onde Luxemburgo passou múltiplas vezes. Também esteve quatro vezes no Palmeiras, quatro vezes no Santos, duas vezes no Corinthians, Fluminense, Campo Grande e América, para além de ter passado por muitos outros clubes de topo do Brasil, como Grémio, Atlético Mineiro e Cruzeiro, mais a selecção brasileira e o Real Madrid, numa longa carreira com mais de três décadas.
Olhando para os técnicos dos 20 clubes da primeira divisão brasileira, são sete os treinadores que já tiveram passagens anteriores pelas equipas que actualmente representam. Para além de Luxemburgo e desta sua quarta passagem pelo Flamengo, também o Atlético Mineiro recorre frequentemente a Levir Culpi, que está a cumprir a sua quarta passagem pelo clube (as anteriores foram em 1994-95, 2001 e 2006-07), substituindo Paulo Autuori.
Quem também está na quarta comissão de serviço ao serviço do Internacional é Abel Braga, que regressou em 2014 ao clube de Porto Alegre, onde conquistou a Taça Libertadores e o Mundial de Clubes, depois de já lá ter estado em 1988-89, 1991 e 2006-08 – Braga também passou duas vezes por Botafogo, Fluminense e Atlético Paranaense. Já Muricy Ramalho está “apenas” a cumprir a sua terceira passagem pelo São Paulo, depois de já estado no clube paulista de 1994 a 1996 e de 2006 a 2009. Quanto a Guto Ferreira, Oswaldo de Oliveira e Mano Menezes, estão a cumprir a sua segunda comissão por, respectivamente, Ponte Preta, Santos e Corinthians.
O que esta lista prova é que é grande a dança de cadeiras no futebol brasileiro, em que os dirigentes têm pouca paciência. Como escrevia Carles Marti numa coluna no “Estado de São Paulo”, há “sempre os mesmos dez ou 12 nomes” que aparecem sempre em situações de emergência: “Na hora do aperto, é só destituir um e chamar o seguinte disponível da lista. Recorrer a um nome de peso e sem clube para conseguir um certo respiro.”
Para Ricardo Kotscho, comentador da Rede Record, esta poule limitada de treinadores no futebol brasileiro está ligada ao desastre que foi a participação da equipa de Scolari no Mundial: “Um bom começo seria mandar os nossos técnicos mais jovens fazerem um estágio lá fora, deixando de lado as velhas certezas dos ‘professores’, que estão a levar os clubes à ruína. Faz muitos anos que são sempre os mesmos, revezando-se nos grandes clubes, incapazes de apresentar qualquer novidade a cada temporada.”