Virginia (a Woolf) onde ela não queria estar
A escritora é objecto de uma exposição numa instituição que desprezava: a National Portrait Gallery, em Londres.
Até 26 de Outubro, retratos de Woolf feitos por contemporâneos do seu Grupo de Bloomsbury, como a irmã, Vanessa Bell, ou o artista plástico Man Ray, juntam-se a materiais documentais como cartas e diários para um novo ponto de vista sobre o percurso e a personalidade de uma das mais influentes escritoras do modernismo.
São cerca de 140 objectos. Presenças mais fetichistas — como a bengala que o marido de Woolf, Leonard, encontrou à beira do rio, no dia em que a escritora se suicidou —, mas também material de arquivo raramente visto, como duas cartas de despedida guardadas pela British Library e que nunca antes foram expostas no Reino Unido. Uma decisão “sensata”, segundo a biógrafa de Woolf, a historiadora de arte Frances Spalding, que comissaria a exposição e diz que estas cartas precisavam de contexto para serem expostas. Nelas, segundo citado pelo diário britânico The Guardian, Woolf escreve à irmã: “Sinto que fui demasiado longe desta vez para poder voltar. Tenho agora a certeza de que estou a voltar a enlouquecer. É exactamente como da primeira vez. Estou sempre a ouvir vozes & sei que agora não vou superá-lo.”
Ao invés de se focar apenas na vida pública da escritora, a exposição não se coíbe, assim, de incluir perspectivas sobre a vida privada de Woolf, incluindo os problemas mentais que lhe foram diagnosticados a partir dos 13 anos. No entanto, a mostra assume-se sobretudo como celebração da dimensão de uma obra de estatura rara “devido ao seu alcance criativo e ao poder do seu uso da palavra”, explicou Spalding ao Guardian. “No momento em que se lê [Woolf], a nossa mente expande-se, altera-se, alcança ideias e pensamentos que não tivemos antes. Se duvidam, voltem a ler as primeiras 12 páginas de Mrs Dalloway e verão.”
Começa assim: “Mrs Dalloway disse que iria ela mesma comprar as flores.”
Também foi ela que escreveu que as mulheres serviram durante séculos como espelhos com o poder de reflectir a imagem do homem duas vezes maior do que o seu tamanho natural.