Sindicatos da função pública reiteram que cortes salarias são inconstitucionais

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Trabalhadores exigem voltar às 35 horas RUI GAUDÊNCIO

"O que espera os trabalhadores no futuro, se este Governo continuar em funções e se continuar com esta política, é que as suas carreiras profissionais continuam em causa e as progressões não serão descongelados", afirmou a coordenadora da Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública Ana Avoila.

Após um encontro com o secretário de Estado da Administração Pública, Leite Martins, no Ministério das Finanças, para discutir o diploma que prevê a aplicação de cortes salariais a partir dos 1.500 euros na função pública e a integração de carreiras numa Tabela Remuneratória Única (TRU), a sindicalista classificou a proposta de lei de "ilegal e inconstitucional", assegurando que a Frente Comum vai solicitar a verificação da inconstitucionalidade da mesma.

O coordenador da Federação dos Sindicatos da Administração Pública (Fesap), Nobre dos Santos, que também esteve reunido com Leite Martins, considerou que "o que está aqui em causa é um prejuízo evidente para os trabalhadores da administração pública no futuro".

Nesse sentido, "a nossa posição é de total intransigência relativamente à proposta do Governo, não a aceitamos, e vamos recorrer à provedoria de justiça e aos partidos políticos no sentido de reclamarem a inconstitucionalidade das medidas propostas", garantiu Nobre dos Santos.

"Este foi um processo muito complicado e estranho. O Governo tem alguma dificuldade em se compaginar com o cumprimento da lei, o que para nós ainda é mais estranho. Este processo começou mal e, provavelmente, acabará mal. Consideramos que a forma como foi feito terá algum problema de inconstitucionalidade formal, mas também [inconstitucionalidade] nas questões substantivas", declarou, por seu turno, a presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), Maria Helena Rodrigues.

De acordo com o diploma aprovado a 3 de Julho em Conselho de Ministros, o executivo compromete-se, gradualmente, já a partir de 2015, com a respectiva reversão dos cortes salariais aplicados aos funcionários públicos, num prazo de quatro anos.

Esta segunda versão da proposta de lei - uma vez que a primeira tinha já sido aprovada no Conselho de Ministros de 12 de Junho - procede ainda à integração das carreiras subsistentes e dos cargos, carreiras e categorias dos trabalhadores na tabela remuneratória única.

Inicialmente, a votação final global da proposta de lei estava prevista para dia 10 de Julho, mas uma vez que o diploma entretanto aprovado foi colocado em discussão pública, deverá ser votado a 25 de Julho.

De acordo com a proposta de lei aprovada a 12 de Junho em Conselho de Ministros, o Governo pretende reintroduzir temporariamente os cortes entre 3,5% e 10% aplicados aos salários do sector público superiores a 1.500 euros introduzidos em 2011 e que vigoraram até 2013.

O diploma estabelece a redução das remunerações totais ilíquidas mensais da seguinte forma: 3,5% sobre o valor total das remunerações superiores a 1.500 euros e inferiores 2.000 euros; 3,5% sobre os 2.000 euros acrescido de 16% sobre o valor da remuneração total que exceda os 2.000 euros, perfazendo uma redução global que varia entre 3,5 % e 10 %, no caso das remunerações iguais ou superiores a 2.000 euros e até 4.165 euros; 10% sobre o valor total das remunerações superiores a 4.165 euros.

Estes cortes progressivos nos salários do sector público foram introduzidos pelo anterior executivo do PS através do Orçamento do Estado para 2011 e mantidos pelo actual Governo PSD/CDS-PP até ao ano passado.

No Orçamento do Estado para 2014, o Governo substituiu-os por cortes entre 2,5% e 10% aplicados aos salários do sector público a partir dos 675 euros.