Não é a primeira vez que se fazem construções desta dimensão de gelo. Em 2013, uma outra equipa da mesma universidade já fizera uma experiência semelhante, construindo a uma enorme cúpula – a maior do mundo em gelo, com um diâmetro de 30 metros.

Agora, chegou a vez de ir mais longe e o projecto Sagrada Família em Gelo irá criar uma catedral, com uma torre com 42,5 metros de altura, incluindo a cruz. A nave terá 18,75 metros de altura e haverá duas torres de 26,25 metros e outras duas com 22,5 metros. Para tal, será utilizado gelo reforçado com fibras de madeira, um material que se chama picreto.

O projecto partiu de dois estudantes de mestrado: Jordy Kern e Teun Verberne, orientados por Arno Pronk. A construção decorrerá entre 28 de Dezembro deste ano e 17 de Janeiro de 2015, na pequena cidade de Juuka. Esta região é uma das mais frias da Europa, cujas temperaturas no Inverno podem chegar aos 30 graus Celsius negativos. “Estas temperaturas são perfeitas para construir uma estrutura como a Sagrada Família em Gelo”, diz o site do projecto.

“Podíamos ter apenas decidido construir uma cúpula ainda maior”, explica Arno Pronk, num comunicado da sua universidade. “Mas, em termos de construção, a Sagrada Família é um desafio muito maior. E, claro, é muito conhecida.”

Tanto para esta experiência como na anterior, as questões meteorológicas são uma preocupação. “No Verão, as temperaturas médias são aproximadamente de 15 graus Celsius, mas ter 20 graus não é algo incomum. No Inverno, as temperaturas médias são cerca de 15 graus negativos, mas no ano passado tivemos até menos 26 graus”, conta ao PÚBLICO Jordy Kern. Em 2013, a construção da cúpula de 30 metros atrasou-se uma semana e meia por não haver gelo suficiente. “Se o tempo for o mesmo do ano passado, não seremos capazes de a fazer”, diz por sua vez Arno Pronk.

Primeiro, os participantes no projecto irão atirar neve para cima de moldes insufláveis, que estarão armados com panos e cordas, uma técnica que tem sido utilizada para construir pequenas estruturas de gelo concebidas por Heinz Isler, famoso engenheiro de estruturas suíço.

Heinz Isler é considerado um dos mais notáveis projectistas de coberturas “tipo casca” em betão armado, utilizando técnicas experimentais para obter as formas ideais para essas cascas. Uma dessas técnicas é precisamente a da membrana insuflável, que o engenheiro de estruturas suíço desenvolveu em 1954, inspirando-se na observação de uma almofada comum.

No caso da Sagrada Família em Gelo, os insufláveis procurarão replicar as estruturas da famosa catedral catalã, ainda que o resultado final não vá ser exactamente igual. Em seguida, os participantes na construção irão lançar para os insufláveis água com 10% de serradura: esta mistura será imediatamente absorvida pela neve, ficando a congelar, e o resultado final será a formação do picreto.

A equipa quer demonstrar que este material pode ser utilizado em construções temporárias, pelo menos nos países onde as temperaturas descem bastante. “O teor das fibras de madeira torna este material três vezes mais forte do que o gelo normal, e também é mais duro”, refere o comunicado.

“Está previsto que a estrutura de gelo dure até ao fim do Inverno. Quando as temperaturas subirem acima de zero graus, a estrutura começará a derreter lentamente. O picreto vai derreter mais lentamente do que o gelo liso, o que é uma grande vantagem”, diz Jordy Kern ao PÚBLICO.

Até ao momento, apenas 2/3 da Sagrada Família estão construídos. A sua torre maior – a de Jesus – está projectada para ter cerca de 172,5 metros. Os responsáveis do projecto decidiram avançar para uma réplica do monumento mais visitado de Espanha devido ao fascínio que têm pela arquitectura de Antoni Gaudí. O Templo Expiatório da Sagrada Família, também conhecido apenas por Sagrada Família, é a obra mais conhecida do arquitecto catalão.

“As estruturas da obra de Gaudí são cientificamente mais interessantes”, justifica Arno Pronk. “E embora a construção em gelo venha a ter a mesma forma que a Sagrada Família, ela não terá a mesma decoração exterior.”

Texto editado por Teresa Firmino