A participação portuguesa na 14.ª Bienal de Arquitectura de Veneza arriscou um modelo jornalístico: a edição de três jornais ao longo dos seis meses de duração do evento, relatando os progressos de seis equipas a trabalhar em seis cidades portuguesas. O comissário, Pedro Campos Costa, escreve no texto editorial que pretende usar a Bienal “para promover, lançar, começar processos, debates, fazer livros e projectos em Portugal, neste preciso momento”. Cruzando a lógica de captação de trabalho com que as seis equipas se lançaram para o terreno e o tema da Bienal, Campos Costa refere-se à importância do SAAL (Serviço Ambulatório de Apoio Local) e do Inquérito à Arquitectura Popular como marcos do processo de absorção da modernidade em Portugal. Na primeira edição do jornal são também desenvolvidas diversas reflexões sobre a habitação, o tema escolhido, com base em trabalhos académicos.
As seis equipas irão apresentar o progresso dos projectos nas próximas edições de Homeland. News from Portugal. Os temas revelam uma consciência aguda dos problemas que afectam a profissão de arquitecto, e o estatuto da arquitectura no nosso tempo. Os Like Architects e Mariana Pestana vão “ocupar” um espaço comercial do Porto, durante um mês, onde realizarão debates sobre os processos de reabilitação e nova espacialização da cidade, tal como o Ípsilon contava na última edição; os Artéria e André Tavares procuram espaços na cobertura de edifícios de Lisboa que permitam relançar a sua recuperação, noutra intervenção aqui explicada há uma semana; os ADOC e Miguel Eufrásia estão a trabalhar num edifício inacabado no concelho de Loures com vista à sua reabilitação para habitação; os SAMI e Susana Ventura procuram introduzir uma poética intimista no desenho do território; Miguel Marcelino e Pedro Clarke investem na análise e no projecto de tecidos e estruturas rurais; o Ateliermob e Paulo Moreira fazem uma abordagem activista de intervenção no Monte Xisto, em Guifões, Matosinhos.
O problema de Homeland não está tanto nos conteúdos mas na forma escolhida para os comunicar. A opção de lançar um jornal como participação na Bienal levaria a pensar em conteúdos igualmente radicais, críticos do próprio processo de expor e pensar a arquitectura. No entanto, os seus conteúdos mostram preocupações que poderiam ser expostas com maior ou menor orçamento ou convencionalidade num dos muitos espaços de Veneza. O belo desenho de Ana Aragão que consta da primeira edição do jornal transforma o rectângulo português num canal delimitado por edifícios. A questão é: o que vê Veneza na representação de Portugal?
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