Abriu uma loja de produtos portugueses para ajudar na inclusão social

A loja no Porto, especialmente direccionada aos turistas, dá novos futuros a quem já pensou que não teria nenhum.

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A formação dada nos Serviços de Assistência Organizações de Maria é aqui posta em prática Miguel Nogueira

A rua de Santana, estreita e com aspecto granítico, recebe, no número 33, uma loja especial, que abriu no sábado. Os olhares dos turistas param na montra da loja, nestes dias enfeitada com uma cascata de São João, e lançam-se sobre os produtos portugueses. Os móveis preenchem-se de queijos, vinhos, compotas e bolachas caseiras. Mas a gema, do nome e do projecto, são os ovos-moles.

A abertura da loja foi sugerida para a comercialização dos elogiados ovos moles confeccionados pelos formandos de pastelaria e catering promovidos pelos Serviços de Assistência Organizações de Maria (SAOM). A associação tem uma oferta formativa, centrada na área de hotelaria, com cursos que vão desde a cozinha até ao de empregado de andares. Os alunos são pessoas com um passado de exclusão social.

Paula Cristina veio de um passado de dependência. Uma técnica de apoio social aconselhou-a a frequentar um curso de pastelaria na SAOM. Aceitou, primeiro, porque é “gulosa” e, segundo, porque sempre “gostou de cozinhar”. A parte de atendimento ao público na nova loja cabe-lhe a si: “Quando vimos deste passado achamos que está tudo perdido e foi importante perceber que essas pessoas nos dão responsabilidades e acreditam em nós. Ora se os outros acreditam, porque não havemos nós de acreditar também?”.

O sorriso, aberto e constante, denuncia a convicção de quem sabe que fez a escolha certa. “Na altura estava sozinha e desamparada pelo que este acompanhamento familiar, amigo e profissional fez com que me sentisse bem e que me desse a conhecer, sem me retrair”.

Henrique Santos é mais retraído, mas, tal como Paula, ostenta um sorriso na cara. A parte da copa, quer de limpeza quer de confecção, está a seu cargo. Está na associação há mais de dois anos, chegou através da Caritas, foi escolhido para o curso de pastelaria e considera “muito importante a recepção que teve” e, para o futuro, só espera poder “continuar”.

Paula e Henrique são dois dos exemplos que os mais de 30 formandos, que compõe os cursos da SAOM, pretendem seguir. ”A formação profissional é uma aposta muito grande nas pessoas, percebemos que a integração passa pela sua formação e, neste momento, com uma parceria que temos com o IEFP estamos a promover a formação escolar e profissional”, explica a presidente da instituição.

Para Ana Pereira, “a importância do empreendorismo social é os formandos terem, nas suas mãos, os seus destinos e esta criação de postos de trabalho, no contexto social, é fulcral”. A inscrição “economia social” está presente à entrada da loja. Em português e em inglês pois os turistas são o público-alvo do estabelecimento . ”Nós apostamos muito neste mercado porque implica alguma sazonalidade. Vamos ter aqui muitos workshops e, nas épocas baixas, vamos apostar muito em pequenos convívios e formações”, revela uma das voluntárias envolvidas no desenvolvimento da loja.

A mesma colaboradora vê este tipo de projectos como “uma forma arrojada de fazer com que as pessoas rompam com aquilo que foram os seus passados”, até porque “é muito importante essa ruptura, que existam outros números, outras realidades sociais”. Os números, como em qualquer loja, serão importantes mas não são a preocupação essencial. O objectivo é que a loja seja auto-sustentável.

O lucro, mais do que um fim, será um meio porque a ideia é que continuem a ser criados mais postos de trabalho e promovidas oportunidades no mercado laboral. “Temos que dar respostas porque as pessoas entram na associação todos os dias. É importante criarmos projectos novos e esses projectos surgem naturalmente com as dinâmicas de trabalho que se geram aqui diariamente”, considera Ana Pereira. Paula e Henrique fecham agora a porta ao passado e preparam-se para abrir janelas para o futuro.

Texto editado por Ana Fernandes

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