Lavandarias à americana conquistam cada vez mais adeptos nas cidades

A moda do self-service está a mudar a forma como tratamos da roupa. Em Lisboa as lojas surgem como cogumelos, no Porto ainda dão pequenos passos. Investidores e clientes garantem que compensa.

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"Pausa para um café e roupa lavada" é o slogan da Cotton Club Rui Gaudêncio
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Máquinas industriais permitem lavar grandes quantidades de roupa em menos tempo Rui Gaudêncio
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No Porto, os principais clientes d' A Lavandeira são turistas e estudantes Fernando Veludo/NFactos
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Cliente é autónomo em todo o processo, desde o pagamento até à colocação da roupa na máquina Fernando Veludo/NFactos

Há muito que as lavandarias self-service, que nos habituámos a ver nos filmes americanos, chegaram às principais cidades europeias. Mas em Portugal, onde quase todas as casas têm máquina de lavar, o conceito demorou a ganhar raízes. Em Lisboa, as primeiras lojas surgiram no final de 2012 e desde então parecem cogumelos a nascer pela cidade e arredores. No Porto, a expansão do negócio parece mais lenta. E a moda já se espalhou por dezenas de cidades de Norte a Sul.

“Quando abri a primeira loja nas Caldas da Rainha, em 2008, olhavam para mim como se eu fosse lunática”, conta Sidónia Faustino, sócia-gerente da Kitsec, que tem as lojas Washstation. A verdade é que a ideia pegou – já existem 30 lojas parceiras da marca espalhadas pelo país, três delas em Lisboa, e estão mais para abrir.

“A necessidade de lavar a roupa existe, nós só oferecemos um serviço mais profissional e acessível”, explica. Além das máquinas industriais de grande capacidade (entre seis e 16 quilos), todas as lavandarias fornecem detergente, amaciador e desinfectante. “Os clientes reduzem a conta da água, da luz e do supermercado”, sublinha.

Não é fácil calcular a poupança porque a equação é muito variável. Depende do tipo de máquina, dos programas de lavagem, da tarifa da água (que varia muito entre concelhos), da opção ou não por uma tarifa de luz bi-horária, da sujidade da roupa, do detergente utilizado.

Nas lavandarias self-service, os preços variam entre quatro euros para máquinas de sete ou oito quilos e nove euros para as de 16 quilos, sendo que todas as lojas disponibilizam cartões-cliente ou “chaves” que se traduzem em descontos. Segundo os empresários contactados pelo PÚBLICO, a poupança em relação à lavagem e secagem doméstica ronda os 40% a 60%. Mas são o tempo e a comodidade, que não se traduzem em euros, que mais parecem pesar na hora da decisão.

Rui Batista prefere lavar em casa. “Tenho máquina e como é pouca roupa não me compensa vir aqui. Mas se não tivesse máquina, já não comprava”, garante. A máquina de secar é que nunca mais trabalhou.

Duas a três vezes por semana, enfia a roupa acabada de lavar num saco do Ikea e vai até ao número 74 da Avenida Almirante Reis. Entre vestuário, toalhas e lençóis (como aluga apartamentos a turistas, tem muito que lavar), enche facilmente uma das cinco máquinas de secar de 16 quilos. Deixa quatro euros (dois euros por cada 18 minutos) na ranhura da máquina automática e vai-se embora, mas podia ficar na loja: embora pequena, tem cadeiras, mesas e wi-fi grátis. Volta 40 minutos depois e a roupa está pronta a dobrar, quase sem vincos. “Sobretudo no Inverno, é a melhor solução. Poupo luz e espaço em casa.”

Para turista e não só
Mas quem são afinal os clientes das lavandarias self-service? A resposta é unânime: não há um cliente-tipo. São mulheres ou homens, mais novos e mais velhos, que vivem nos centros urbanos. Alguns começam por ir só porque a máquina avariou, ou para lavar peças grandes, mas acabam por levar o resto da roupa. Em algumas zonas, os principais clientes são estudantes, estrangeiros a residir temporariamente em Portugal e também turistas, que procuram alternativas às lavandarias dos hotéis, mais caras.

Estes últimos são os que mais frequentam A Lavandeira, a primeira lavandaria do género a surgir no centro do Porto, em 2013. Uma conversa entre duas amigas, Glória Santos e Isilda Viana, fez nascer o espaço na Rua da Conceição, pensado ao pormenor para ser “mesmo à portuguesa”, com o azulejo e o ferro forjado.

Sérgio Bueno tem 43 anos e está de visita a Portugal. “Estou em viagem pela Europa e hoje completei uma semana de viagem, é o momento de lavar as roupas para a próxima semana”, conta o turista natural de São Paulo, Brasil. Já é cliente habitual destas lavandarias noutras cidades. “É um serviço quase fundamental para evitar que tenhamos uma mala muito grande”.

“Parece que as pessoas já estavam à espera deste negócio”, observa Ana Sousa, que abriu com o marido uma loja Lava Mais na rua da Constituição, no Porto, há cerca de um mês. Também ela ficou surpreendida com a adesão. “Antes de termos esta lavandaria, fomos clientes de outras, e íamos apontando tudo aquilo que achávamos que devia complementar a lavandaria”, diz a empresária. Foi assim que às máquinas se juntaram uma televisão, um espaço para crianças e uma máquina de snacks. Porque muitos clientes passam ao final da tarde, depois do trabalho, com vontade de petiscar.

Também Carlos Soares quis criar um espaço mais "apetecível" quando decidiu abrir, em Outubro de 2012, a Cotton Club, uma das lavandarias parceiras da marca Washstation. Foi esta a primeira lavandaria self-service a abrir no centro de Lisboa, na zona do Intendente, com o slogan “Pausa para um café e roupa lavada”. No espaço da Rua Andrade funciona um café, onde os clientes podem passar o tempo de espera. O conceito parece funcionar. “Às vezes às 8h já tenho gente à porta. Num fim-de-semana de chuva, houve pessoas que estiveram cinco horas à espera de vaga para secar roupa”, diz a empregada do café.

A maioria das lojas tem horários de funcionamento alargados e está aberta 365 dias por ano. Até no Natal. Para os proprietários compensa, porque não há despesas com pessoal. “Ao início as pessoas estranham não ver ninguém nas lojas”, admite Ricardo Guerra, responsável pelas lojas Lava Mais em Lisboa. “Mas primeiro estranha-se, depois entranha-se”, continua.

Os números não o deixam mentir: na loja de Campo de Ourique, que abriu no Verão passado, as máquinas de lavar funcionaram mais de 700 vezes em Fevereiro. As de secar, mais de 2300 vezes. “É um bairro residencial, pensávamos que ia ser mais difícil conquistar clientes, mas surpreendeu-nos”, diz Ricardo Guerra.

Aproveitando o sucesso das lojas existentes, em breve deverão abrir mais três Lava Mais na capital. Cada loja tem entre sete a dez máquinas, dependendo do tamanho do espaço, o que exige um investimento que ronda os 60 a 70 mil euros. A principal despesa de funcionamento é a renda, que nos centros urbanos encarece qualquer negócio. As facturas da luz, água e gás (as máquinas de secar funcionam a gás) variam em função da procura, ou seja, das receitas.

Carlos Soares resume: “Não é o negócio do milhão, é o negócio do tostão.” Mas é rentável, garante.
 

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