Há uma componente de exercício de estilo, de manipular expectativas - violentar de forma infantil a tolerância do espectador em relação ao gore - na longa-metragem de Jeremy Saulnier, nome que se encontra nos genéricos dos filmes de Matthew Porterfield, por exemplo (é o seu director de fotografia). Saulnier propangadeou, aliás, Ruína Azul como filme para reformular o “filme de vingança”. A bazófia serviu-lhe para arranjar 37 mil dólares em plataformas de crowdfunding. Mas a verdade é que nesta história de um homeless que recebe a notícia de que o assassino dos pais vai sair da prisão e começa a engendrar a vingança não há só esperteza saloia. Há uma meditação melancólica, triste sobre a obsessão e a perda, como se o filme fosse um flashback que a personagem principal é obrigada a fazer a si própria: o sem-abrigo sai das ruas e regressa aos locais e pessoas do seu passado, ficando o espectador a vislumbrar o que teria sido essa vida anterior - a figura que nos surge, depois de apagados adereços, é alguém socialmente incapaz, refém do medo e da infância (os traços físicos do actor Macon Blair, figura assexuada, ajudam). Suspensão na gravidade, portanto, e não apenas o melhor filme dos Coen dos últimos anos que não foi realizado pelos Coen.
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