As negociações: uma cortina de fumo para roubar terra palestiniana

O que a comunidade internacional deve perguntar não é quem quer as negociações, mas quem quer as soluções.

No entanto, hoje, existe apenas o Estado de Israel – em 78% da Palestina histórica. Em consequência, os palestinianos, que sofrem décadas de deslocamento, desapropriação e negação sistemática dos seus direitos nacionais e humanos, ainda esperam ser acolhidos pela comunidade internacional como um estado-membro pleno na ONU.

Em Novembro de 1988, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) declarou a criação do Estado da Palestina na Cisjordânia incluindo Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza, ou seja, apenas 22% da sua pátria histórica. Ao limitar as suas aspirações nacionais desta forma, a OLP fez um compromisso histórico pelo interesse da paz.

Infelizmente, este gesto generoso pela parte dos palestinianos nunca foi retribuído por Israel, o poder ocupante. Após 65 anos de miséria, em 29 de Novembro de 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas emitiu uma certidão de nascimento da Palestina. Apesar da falta de reconhecimento pleno do Estado da Palestina, este foi eleito como estado não-membro da ONU por 74% dos seus estados-membros – incluindo Portugal. É um passo significativo no processo de corrigir a histórica injustiça sem precedentes, infligida ao povo palestiniano desde a criação de Israel em 1948.

Tenho a certeza de que o desejo dos palestinianos era que esta elevação de estatuto pela ONU fosse o culminar de negociações realistas entre eles e os israelitas. Mas a história das negociações com os israelitas é uma história em que um lado mantém compromissos enquanto o outro lado, o israelita, ignora-os.

Graças ao secretário de Estado dos EUA, John Kerry, as negociações foram retomados, por um período máximo, até 29 de Abril deste ano. Durante esses nove meses de negociações, como esperado, Israel fez tudo o que era possível para sabotar as negociações: não respeitou as suas obrigações de libertar o último grupo de presos pré-Oslo, matou 67 palestinianos, demoliu mais que 200 casas palestinianas e aumentou os colonatos 137% mais que no ano anterior.

Por fim, a questão que a comunidade internacional deve perguntar não é quem quer as negociações, mas quem quer as soluções.

Por outras palavras, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, vê as negociações como uma oportunidade para melhorar a sua imagem internacionalmente e como fachada de forma a ganhar tempo para roubar mais terra palestiniana. Este plano foi afirmado no início dos anos noventa por um ex-primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Shamir (o padrinho político de Netanyahu), que disse que iria negociar com os palestinianos por 10 anos sem lhes dar nada. Outro ex-primeiro-ministro Ehud Olmert disse: “Nos últimos quatro anos, este Governo (de Netanyahu) tem recusado a paz. Fez tudo o que era possível para agravar o sector moderador, amante da paz, da liderança palestiniana. Criou uma situação em que os extremistas são incentivados, talvez, para que possa dizer, mais tarde, que não há ninguém para conversar.” (Haaretz, 17 de Janeiro de 2013)

O Presidente dos EUA, Barack Obama, disse que “Netanyahu é um cobarde apolítico que está completamente em cativeiro do lobby dos colonos, e, por isso, está desinteressado em realizar gestos de reconciliação perante os palestinianos.” Obama acrescentou que Netanyahu “não entende o que são os melhores interesses de Israel” e que o seu comportamento vai conduzir Israel a um grave isolamento internacional. (Haaretz, 15 de Janeiro 2013)

Estes pontos de vista israelitas e norte-americanos explicam por que 20 anos de negociações não contribuíram para estabelecer um Estado Palestiniano. Mais importante, se estas – e outras visões europeias similares críticas da liderança israelita – não foram transformadas em acções de forçar Israel para terminar a ocupação militar da Palestina, o actual statu quo de regime de apartheid israelita na Terra Santa continuará a ameaçar a estabilidade e a paz na região e muito além.

Embaixador da Palestina

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