Apesar da esmagadora vitória do ANC, é a oposição que sai reforçada na África do Sul
A grande surpresa foram os 6,2% da extrema-esquerda de Julius Malema.
A Aliança Democrática (DA) ficou em segundo lugar, garantindo cerca de 22,2%. Mas a maior surpresa são mesmo os 6,2% conseguidos pelo partido de extrema-esquerda, o Economic Freedom Fighters (EFF), liderado por Julius Malema, antigo líder da Liga da Juventude do ANC.
Malema, quase que se pode considerar o grande vencedor destas eleições: os seus 6,2% representam mais de um milhão e cem mil votos, sendo que, na região mais povoada do país, que inclui a capital, Joanesburgo, conseguiu uns impressionantes 10% do eleitorado.
O líder do EFF, durante a campanha eleitoral, foi sempre um feroz crítico do ANC, mais precisamente do seu líder, Jacob Zuma, que acusou de andar a “enganar o povo durante todos estes anos”. “Ele tem sangue do povo nas suas mãos!” Nos comícios em que participava – ao estilo de Hugo Chávez (o seu inspirador, usando mesmo uma boina vermelha) –, mobilizou milhares de pessoas e lançou promessas de expropriar as terras dos brancos e nacionalizar os bancos e as minas.
Estes 6% conseguidos pelo EFF não são uma real ameaça para o ANC, mas o seu populismo agressivo manterá com certeza Jacob Zuma e os seus ministros em sobreaviso constante.
A líder do Aliança Democrática, Helen Zille, que na quinta-feira de manhã tinha afirmado à agência francesa AFP que esperava uma votação à volta dos 23%, obteve também ela um resultado histórico e pode ser considerada outra das parciais vencedoras destas eleições. Apesar de o seu eleitorado estar concentrado principalmente na província do Cabo Ocidental, que tem uma grande população branca e mestiça, Helen Zille tem tentando fazer incursões no eleitorado negro, tendo mesmo quase chegado a acordo com Mamphela Ramphele, activista da luta anti-apartheid, para apelar ao eleitorado negro.
Apesar da vitória do ANC (que assegura a reeleição de Zuma), o facto é que, desde as ultimas eleições, em 2009, o partido perdeu quase um milhão de eleitores. Em contraponto, a Aliança Democrática obteve mais 6% do que nas eleições anteriores. Esta tendência pode demonstrar o crescente descontentamento com o líder do ANC Jacob Zuma, não só porque o país continua com taxas de desemprego muito altas e a pobreza atinge cerca de 25 milhões da população – a população total do país é de cerca de 50 milhões –, mas principalmente devido aos constantes casos de corrupção de que é acusado. Uma investigação independente concluiu que o Presidente sul-africano tinha “beneficiado indevidamente” de um financiamento estatal para comprar uma residência privada, avaliada em cerca de 28 milhões de euros.
Estas eleições são as primeiras desde a morte, em Dezembro, de Nelson Mandela – o primeiro Presidente negro do país – e marca os 20 anos desde o fim do regime de minoria branca.
A comissão eleitoral fez saber que a votação correu pacificamente na maioria das áreas, com participação de pouco mais de 73% dos eleitores inscritos. Dos 29 partidos que participaram nas eleições, 11 obtiveram assentos parlamentares, três são estreantes absolutos, o EFF, o National Freedom Party (NFP) e o African Independent Congress (AIC).
O analista político sul-africano Somadoda Fikeni considera que é possível que alguns eleitores possam ter involuntariamente votado a favor da AIC, pensando que estavam a votar no ANC. “Que eu saiba, o partido nem sequer tinha responsáveis seus nos centros de escrutínio. Estou certo de que eles ainda estão a recuperar do choque positivo destas eleições.”
Notícia editada por Ana Gomes Ferreira