Noé

Darren Aronofsky não é um tipo desprovido de talento, mas aqui espalha-se ao comprido. Fantasia bíblica ambiciosa (e onerosa), representa o encontro, nada inédito em Aronofsky, entre um desejo de grandiosidade e um misticismo pueril, que corrói tudo, inclusivamente a inspiração bíblica, perdida em dúzias de rodriguinhos e personagens espúrias, para uma interpretação “psicologizante” de Noé (com uns pozinhos de Abraão) que deixa de ter alguma parecença com a Bíblia e muito menos alguma aura do Antigo Testamento. Nem aura nem imaginário: Aronofsky concebe a coisa com aquele estilo visual, tornado cliché, de “mundo alternativo”, que tanto faz ser “originário” ou “pós-apocalíptico”, e que vem direitinho da atmosfera standard dos filmes adaptados de “novelas gráficas” (que foi o que Noé começou por ser). Nem os animais têm graça, puras criações digitais. A pompa e a solenidade com que Aronofsky filma, sem leveza, encarregam-se de desfazer rapidamente o interesse que isto pudesse ter. É um filme balofo, que só deve animar se servir de pretexto para o duelo entre “criaconistas” e “evolucionistas” actualmente em curso na América.

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