Exposição quer contar o início da história do graffiti em Portugal
Vasco Teixeira Rodrigues começou a fotografar graffiti na Grande Lisboa em 1995. E lembra-se de quando as latas eram de pintura automóvel e os difusores eram de latas de laca do cabelo
Cerca de duas centenas de fotografias que contam o início da história do graffiti em Portugal, na década de 1990, estarão expostas a partir de sábado, 29 de Março, Primeira Arte Atelier & Galeria, em Pedernais, Odivelas.
Vasco Teixeira Rodrigues, relações públicas de 42 anos, começou a fotografar graffiti na Grande Lisboa em 1995. Apesar de nunca ter pegado numa lata, é responsável por alguns dos eventos mais importantes da área: o 1.º Encontro Internacional de Graffiti (Oeiras, 1999) e o Seixal Graffiti. "Time Capsule" ("Cápsula do Tempo") faz "um retrato fiel do que se passava na década de 1990", disse Vasco Rodrigues à Lusa.
Apesar de ainda hoje fotografar graffiti, para esta exposição escolheu apenas imagens até 2001, altura em que "se dá o 'boom' da arte urbana em Portugal". "O objectivo foi retratar o início e a altura em que o graffiti se massifica e salta de dentro do bairro de São Miguel das Encostas, em Carcavelos, para a Grande Lisboa, em grandes murais como as Amoreiras ou em Belém, junto à Cordoaria, que já não existe.
As fotografias vão de trabalhos de 1994, fotografados em 1995, até 2001, quando acontece o Lx Cool [dia dedicado à cultura hip-hop] e o 1.º Seixal Graffiti, tudo eventos marcantes para o graffiti em Portugal", explicou. Na década de 1990, Vasco Rodrigues fotografava "indiscriminadamente", por isso, na exposição será possível ver-se tanto imagens de 'tags' (assinaturas) e 'bombing' (graffiti rápido, ilegal), como de 'hall of fame' (mural mais trabalhado, geralmente legal).
Mais de duas mil fotos
A mostra é constituída por onze fotografias impressas e cerca de 200 exibidas em projecção, o que implicou "um trabalho enorme de digitalização de fotografias, de revelação de negativos, de passagem de negativos para o computador", isto porque "a grande maioria, se não todas as fotos, foram fotografadas em analógico". "Ficaram muitíssimas de fora, o meu arquivo fotográfico ultrapassa em largo número as duas mil", contou.
Segundo Vasco Rodrigues, o que se passava na década de 1990 e o que se passa hoje em dia na área do graffiti em Portugal "é diametralmente oposto". "Hoje temos profissionais, que na altura eram rapazes, estudavam na secundária. Hoje há marcas de latas que nascem de propósito para quem faz graffiti, tendo atenção à pressão com que a tinta sai ou à diluição da tinta dentro da lata, os difusores (caps) são feitos de propósito e as tintas são misturadas por 'writers'", disse Vasco Rodrigues.
No início, os 'writers' "pintavam com as latas que conseguiam arranjar, as que havia eram de repintura automóvel, era uma cor horrível, não havia grande gama de cores, e os difusores eram roubados no supermercado de latas de laca para o cabelo das senhoras e tudo e mais alguma coisa que eles conseguissem tirar, que davam um traço mais fino ou mais grosso", recordou, acrescentando que "faziam milagres com o material que tinham".
Mas não foi apenas isso que mudou em duas décadas. Antes havia muito menos gente a pintar e havia mais espaço; por outro lado, não havia a sensibilidade do público em geral para considerar esta actividade uma arte.
"Time Capsule" está patente na Primeira Arte Atelier & Galeria até ao dia 30 de Abril.