Casa del Lector: a vila dos papiros

As portas desta biblioteca singular estão abertas na Casa del Lector, no Matadero de Madrid (até 23 de Abril)

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No ano 79 d. C., o Vesúvio fez troar o seu rugido e a lava expelida das suas entranhas em fúria sepultou sob um espesso manto a cidade costeira de Herculano, perto de Nápoles. Debaixo da assinatura da catástrofe, escondia-se um autêntico tesouro. Por volta de 1750, no âmbito das escavações arqueológicas sistemáticas levadas a cabo naquela zona, ordenadas por Carlos III de Espanha, descobriu-se a única biblioteca da antiguidade clássica preservada de que temos conhecimento.

No interior da Vila dos Papiros, uma luxuosa mansão junto ao mar que se pensa ter pertencido ao cônsul Lucius Calpurnius Piso, sogro de Júlio César, foram encontrados 1800 rolos de papiro carbonizados, cujo conteúdo a lava preservou até aos nossos dias. Contêm textos em grego, que têm como fio condutor os pensamentos de Epicuro, filósofo muito apreciado na região durante aquela época. A vila constituía um refúgio para a leitura e a reflexão.

As portas desta biblioteca singular estão abertas na Casa del Lector, no Matadero de Madrid (até 23 de Abril). A viagem ao passado inicia-se com uma reconstrução virtual, que nos dá a conhecer as várias divisões que compunham a casa. Os papiros carbonizados, os moldes em gesso feitos a partir das esculturas encontradas nas escavações, entre outros inúmeros objectos, transmitem-nos a relação que as pessoas tinham com a leitura e a importância da palavra escrita na Roma antiga.

A mostra põe em evidência que as investigações e as escavações arqueológicas levadas a cabo no século XVIII em Herculano, assim como nas outras cidades vesuvianas, Pompeia e Stabia, deram um novo impulso à história cultural europeia e permitiram uma atenta releitura do passado, plasmada em oito volumes intitulados Le antichità di Ercolano esposte (1757-1792).

É uma proposta interessante e diferente, que nos oferece a possibilidade de contemplar a máquina construída por Antonio Piaggio para desenrolar os frágeis papiros encontrados, com o fim de decifrar o seu conteúdo, e o único papiro totalmente desenrolado, com mais de três metros de comprimento. Uma mesa interactiva convida-nos a sacudir com as mãos o pó dos documentos e a esquadrinhar esse valioso legado. Concluída a viagem não podemos deixar de pensar na biblioteca – na irresistível faculdade de encerrar ideias e contrariar o curso do tempo – e no enorme poder que esta exerce sobre nós.

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