A epidemia das redes sociais e dos ecrãs tácteis

Hoje em dia, o comportamento das pessoas parece ser mais artificial, forçado, imitado e supérfluo, em troco de maior notoriedade ou aceitação

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Thomas Peter/Reuters

A interactividade com dispositivos digitais móveis é uma moda que veio para ficar. E, se por um lado, pode ser de extrema utilidade e pertinência, por outro, pode ser prejudicial a quem não souber regrar o consumo das funcionalidades destes aparelhos, e não só.

A evolução tecnológica é uma proeza da qual podemos usufruir e tirar partido nos mais variados campos, facultando-nos acesso a bens essenciais. Mas, como evolui tão rapidamente, é capaz de tentar as pessoas a aderirem acriticamente àquilo que mal conhecem ou de que nem precisam. Assim, a sociedade moderna e consumista, com aquela típica ânsia de ter e de mostrar, dará maior importância àquilo que é acessório a cada indivíduo e esquecerá o real valor intrínseco e pessoal de cada um.

Por isso, hoje em dia, o comportamento das pessoas parece ser mais artificial, forçado, imitado e supérfluo, em troco de maior notoriedade ou aceitação. Isso é evidente nas redes sociais (que cada vez são mais) mas também em convívios entre amigos e colegas. O fundamental é saber a senha do “wi-fi”, estar online, mostrar actividade e mostrar-se a quem está num outro ecrã, mesmo que tenha pessoas sentadas ali mesmo, naquela mesa, que, eventualmente, acabam por passar para segundo plano. Afinal, num ecrã cabem muito mais interlocutores, ainda que virtuais.

Por vezes fico pasmado com a facilidade com que uma conversa salutar pode ser substituída por ecrãs que invadem o espaço e ocupam o tempo. Tudo serve: mensagens, joguinhos, mapas, fotografias, vídeos, Internet e uma panóplia assustadora de aplicações que estão já há muito tempo disponíveis, apenas à mercê de um toque, ao alcance da vista e transportáveis num bolso.

Muitas destas aplicações e funcionalidades, para além de causarem dependência, têm o condão de extinguir a comunicação verbal ou fazer com que esta apenas gire em seu redor. Como está fácil de ver, quem lidar com pessoas demasiado afeiçoadas aos ecrãs e se não encarneirar por essa via, sentir-se-á desconfortável. Aqui deve imperar a sensatez: devemos usar mas não abusar dos touchscreens e compreender que cada indivíduo é diferente e tem as suas próprias necessidades, mas que é importante encontrar-se um equilíbrio de consumo que não prejudique ninguém.

A realidade de que falei incide mais sobre os pré-adolescentes, os adolescentes e os jovens adultos, mas a proliferação dos ecrãs apenas como forma de entreter ganhou outro alvo: os bebés e as crianças. Os pais, com a falta de tempo e com a necessidade de manter os filhos controlados e entretidos, têm optado por apetrechá-los prematuramente de tecnologia. Até nesta faixa etária os ecrãs começam a destituir os brinquedos, os livros de colorir, as plasticinas e afins. É tanto mais grave quando esses aparelhos substituem a interação com outras crianças ou com educadores de carne e osso e quando está provado que quanto menor e mais tardia for a exposição de crianças aos estímulos de ecrãs, maiores são os ganhos de saúde.

No final desta reflexão, e sem me opor às redes sociais ou à portabilidade das tecnologias — e sabendo que caí na tentação de generalizar — só me apraz recomendar o seguinte sobre os “smartphones”, “tablets” e respectivas aplicações: sê responsável, usa com moderação (e valoriza menos o acessório e mais o essencial).

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