Um apego, irónico e trágico, ao que permanece depois das euforias (tecnológicas, inclusive), ao que é desesperadamente humano, era essa a matéria de Queres Ser John Malkovich? (1999) e de Inadaptado (2002). Filmes de uma densidade palpável, pareciam objectos “artesanais” fabricados por quem tinha o perfil multi-qualquer coisa de “artista do século XXI”. Eram também filmes, adultos, de Charlie Kaufman, o argumentista. Que deve por isso ser responsabilizado pela singularidade. É que Her, tal como já O Sítio das Coisas Selvagens (2009), é um filme de uma inconsequência adolescente. Há qualquer coisa de regressivo nisto de inventar a história de um homem que se apaixona pela voz do sistema operativo do seu computador e depois ter medo de avançar com o filme, permanecendo no tom de lamúria, a suspirar pela voz de Scarlett Johansson, sentando-se com a cabeça no ombro da comédia romântica - impotente para concretizar, até no campo do “tema” humanidade rodeada de tecnologia, que é aqui um “cenário” realmente virtual. É uma longa-metragem com a impressão digital de uma curta. De resto, há mais tensão e fantasia - e amor e desejo - entre Dave e Hall 9000 numa sequência de 2001 Odisseia no Espaço do que em toda esta história de amor.
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