Coleóptero apanhado por Darwin que esteve perdido é, afinal, de uma nova espécie
Darwin nasceu a 12 de Fevereiro de 1809. Um artigo no dia do seu aniversário resgata do passado um coleóptero apanhado pelo pai da teoria da evolução. Esta é a história de uma nova espécie.
Esta é uma história sobre os perdidos e achados das colecções de história natural, que vem florear a data do aniversário de Charles Darwin – nascido a 12 de Fevereiro de 1809 –, mostrando que 205 anos depois do nascimento do cientista inglês, o seu trabalho continua a dar frutos no conhecimento da natureza.
Voltemos então à avidez do pai da teoria da evolução. “Os esforços de Darwin em coleccionar [espécimes] durante a viagem [de navio] do Beagle (1831-1836) foram importantes porque ele trouxe para o Reino Unido exemplares que ainda não tinham sido apanhadas antes”, escreve Stylianos Chatzimanolis.
O naturalista inglês foi compilando as Notas de Insectos com informação sobre os insectos que ia recolhendo. Mais tarde, a partir destas notas, fez-se uma lista dos coleópteros recolhidos. Alguns destes indivíduos, depois de estudados, deram origem a novas espécies. Mas outros, a que Darwin fez referência nas suas anotações, não foram encontrados no Museu de História Natural, em Londres, e estavam perdidos.
A história de Darwinilus sedarisi recomeça então em 2008. “Recebi uma leva de insectos do museu de Londres e, para minha surpresa, apercebi-me de que um deles foi apanhado por Darwin”, disse em comunicado Stylianos Chatzimanolis. O indivíduo estava no museu britânico, de facto, mas estava erradamente junto de outra espécie de coleóptero. “Descobrir uma nova espécie é sempre entusiasmante, descobrir uma que foi apanhada por Darwin é realmente incrível.”
A viagem de Charles Darwin no Beagle, que partiu de Inglaterra, foi uma volta ao mundo. O Beagle atravessou o oceano Atlântico (parou nos Açores e em Cabo Verde), percorreu a costa Leste e Oeste da América do Sul, deu um (importante) pulo no arquipélago das Galápagos, atravessou o oceano Pacífico, parou em Sydney, Austrália, foi às ilhas Maurícias, passou pela Cidade do Cabo, parou de novo na Baía, Brasil, e voltou finalmente a Inglaterra. Nas várias paragens, Darwin foi observando a paisagem natural e foi recolhendo fósseis, grandes mamíferos, insectos, que enviava de volta para Inglaterra.
Na Argentina, Darwin fez um percurso de sul para norte entre Bahía Blanca e Buenos Aires. Foi nessa viagem que recolheu um espécime deste coleóptero que pertence à família Staphylinidae. O outro indivíduo desta espécie foi recolhido já durante o século XX (antes de 1935), em Córdoba, na Argentina. Não se conhece mais nenhum exemplar desta espécie, que tem a cabeça com uma cor metálica e antenas serrilhadas. O aspecto das antenas é uma das características únicas destes indivíduos, que fez com que Stylianos Chatzimanolis inventa-se um novo género. Aliás, se Darwinilus (o nome do novo género) vem de Darwin, sedarisi é uma homenagem do investigador ao escritor norte-americano David Sedaris.
No dia de Darwin
Nesta quarta-feira, a data de aniversário de Charles Darwin irá ser celebrada em algumas escolas em Lisboa, Oeiras, Porto e Seixal. Em Lagos, o Centro de Ciência Viva tem oficinas com alunos do 1º ciclo. Na Trafaria, em Almada, o clube Ciência a Todo Vapor vai celebrar o dia com a realização de Jogos de Evolução em espaço público.
O livro de António Vieira A Minha Viagem com Charles Darwin, editado pela Associação Viver a Ciência, vai ser apresentado no Palacete dos Visconde de Balsemão, no Porto, às 18h. António Vieira foi vigilante da exposição A Evolução de Darwin, entre Fevereiro e Julho de 2011, na Casa Andresen, no Porto. A exposição inspirou-o para escrever pequenas quadras sobre o naturalista inglês: “Das várias ilhas colheu/ Fósseis de toda a qualidade/ Aos animais também lhe deu/ A devida prioridade.”
Na viagem que fez no Beagle, Darwin começou a compilar informação sobre o mundo natural que o ajudou a formular a teoria da evolução, enunciada mais tarde juntamente com Alfred Russel Wallace, que revolucionou para sempre o pensamento humano. Mas o seu trabalho de base de naturalista continua ainda hoje a dar frutos, como esta descoberta mostra.
O novo coleóptero foi encontrado numa área que abarcava o clima subtropical húmido e temperado húmido. Hoje, o estatuto deste insecto é uma incógnita, refere Stylianos Chatzimanolis: “A maior parte da área foi transformada em campos agrícolas e é questionável se é um habitat apropriado para esta espécie. Espera-se obviamente que uma nova espécie descrita não esteja já extinta.”