Estivadores europeus pararam em solidariedade com os portugueses
Greves em Lisboa vão continuar. Operadores portuários falam de “uma enorme irresponsabilidade”.
As paralisações foram feitas por apelo de duas federações sindicais internacionais, a IDC (Conselho Internacional de Estivadores, no qual está filiado o Sindicato dos Estivadores português) e a ETF (Federação Europeia dos Trabalhadores dos Transportes, que acolhem todos os sindicatos dos vários tipos de trabalhadores portuários).
Em comunicado, o Sindicato dos Estivadores congratulou-se com a solidariedade, que atribuiu não só ao entendimento de que o que se passa em Portugal “é um balão de ensaio” para os portos “onde ainda existam estivadores profissionais”, como também ao entendimento da existência de riscos em descarregar navios por trabalhadores precários.
“Ninguém vai arriscar a vida a descarregar um navio carregado às cegas, sem garantias de segurança e onde, ao mínimo descuido, poderão acontecer danos humanos e materiais tão trágicos como irreversíveis”, afirmou a estrutura sindical.No texto, o sindicato adiantou que “não se opõe a novas contratações”, até porque “há anos que as reclama”, mas “exige que a reintegração dos trabalhadores despedidos no último ano seja prioritária”.
O Sindicato de Estivadores decidiu em 31 de Janeiro prolongar as greves no porto de Lisboa até ao dia 24 de Fevereiro.Os estivadores estão contra o recurso a novos trabalhadores, depois de terem sido despedidos 47 em 2013, e contestam sobretudo o novo operador Porlis. “O que está em causa é a tentativa de introduzir uma nova empresa com o objectivo de provocar a insolvência da actual”, declarou à Lusa o presidente do Sindicato dos Estivadores, Trabalhadores do Tráfego e Conferentes Marítimos do Centro e Sul de Portugal, António Mariano.
Na semana de 3 a 10 de Fevereiro, os estivadores no turno das 8h às 10h vão parar o trabalho “para as empresas sócias da Porlis, maioritariamente pertencentes ao grupo Mota-Engil”.
As paralisações tiveram início a 27 de Janeiro e já motivaram uma carta aberta das três associações de operadores portuários ao sindicato.
No documento, a que a Lusa teve acesso, os operadores dizem que receberam com “enorme surpresa e forte indignação” os pré-avisos, o que consideraram ainda mais surpreendente quando estes surgem “em pleno decurso do processo negocial de revisão do Contrato Colectivo de Trabalho, que se desenvolvia com toda a normalidade”.
“Parece-nos de uma enorme irresponsabilidade que, estando próximos de um acordo sobre matérias fundamentais e prontos para a admissão, no imediato, de mais 18 trabalhadores para o sector, tenha essa direcção sindical decidido dinamitar novamente esse entendimento. Só interpretamos tal atitude como uma manifesta e inconfessável forma de não quererem uma paz social no porto de Lisboa”, consideram a A-ETPL (Associação de Empresas de Trabalho Portuário), a AOP (Associação Marítima e Portuária) e a AOPL (Associação de Operadores do Porto de Lisboa).
Os operadores dizem também que estas greves pretendem “defender o interesse de apenas alguns”, além de que consideram que põem em causa “milhares de postos de trabalho” dependentes das operações dos portos e a “inversão do ciclo económico”, assim como o “abastecimento regular das Regiões Autónomas”.