Thatcher planeou chamar Exército durante a greve dos mineiros do carvão
Arquivos britânicos de 1984 mostram que primeira-ministra britânica ponderou declarar estado de emergência.
A greve dos mineiros durava há quatro meses quando os ministros do executivo de Thatcher discutiram em segredo uma possível declaração de estado de emergência que permitisse uma mobilização do Exército para a acção dos mineiros, diz o diário britânico The Telegraph com base em documentos agora desclassificados. A ideia era que protegessem os mineiros que quisessem trabalhar e que ajudassem a movimentar o carvão.
Em público Thatcher mantinha uma postura irredutível em relação às exigências dos mineiros, em protesto contra o encerramento de 20 minas – que os sindicatos dos mineiros suspeitavam ser mais, e os documentos agora divulgados parecem dar-lhes razão, mencionando um plano de fechar 75, diz a emissora britânica BBC.
A greve, marcada por vários confrontos violentos entre a polícia e os piquetes de greve, só terminou no ano seguinte. Em privado, a primeira-ministra estava preocupada com os seus efeitos e não queria ficar refém das exigências dos líderes sindicais.
A discussão sobre uma participação dos militares ocorreu quando havia também uma greve dos estivadores, que punha em risco a chegada de produtos alimentares à ilha britânica. Responsáveis alertaram então o Governo para a possível falta de produtos como tomate ou maçã, bacon ou citrinos no prazo de dez dias, e foi ponderado o recurso ao Exército para fazer o trabalho dos grevistas. No entanto, alguns ministros advertiram para o potencial problema de chamar o Exército para ambas as greves, dizendo que não só inflamaria os ânimos, como seria visto como um sinal de fraqueza do Governo. Os estivadores regressaram ao trabalho após dez dias, e o plano foi abandonado.
Nelson Mandela brevemente referido
Os arquivos revelam ainda que Thatcher falou brevemente sobre Nelson Mandela na polémica visita do Presidente sul-africano P.W. Botha em 1984 (em que Thatcher declarou que o apartheid era “inadmissível”) – deitando por terra, segundo The Guardian, as alegações de que este teria sido o principal assunto na agenda da então primeira-ministra. Outro diário britânico de referência, The Times, diz mesmo que Mandela “foi o grande assunto ausente” da reunião.
Mandela tinha, no entanto, sido assunto durante uma conversa privada (que durou 40 minutos e não 15 como previsto, segundo a BBC) entre os dois responsáveis. O Guardian diz que, segundo as notas da reunião, não é possível confirmar a alegação de que Thatcher tomou vigorosamente a defesa de Mandela. Pelas notas da secretária privada de Thatcher, o que se vê é que Botha começou por falar de quatro sul-africanos da empresa Armscor acusados no Reino Unido por tentarem vender armas à Africa do Sul, desrespeitando o embargo em vigor, e Thatcher respondeu que essa era uma questão para os tribunais. De seguida Thatcher falou de Mandela, e Botha respondeu do mesmo modo: essa era uma questão judicial e não do âmbito do Governo.
As notas da secretária de Thatcher também foram divulgadas e permitem uma visão do dia-a-dia da primeira- ministra, com pormenores como as 120 idas ao cabeleireiro (em média, uma vez a cada três dias, normalmente entre as 8h e as 9h da manhã), ou o marcar algum tempo livre na agenda – uma manhã para "arrumar o apartamento" ou uma noite "calma com Dennis", o marido.
O arquivo nacional deverá divulgar mais documentos dentro de seis meses. A desclassificação e divulgação era feita após 30 anos, mas o arquivo quer reduzir este prazo para 20 anos. Assim, vai ser revelado um ano por semestre, e os documentos de 1985 estarão disponíveis no Verão.