Dizem que na Passagem de Ano podemos pedir desejos. Há até quem faça listas de trivialidades que promete a si mesmo cumprir. Alguém ainda se recorda das já empoeiradas resoluções para o 2013 que agora acaba? Não me cheira.
Como odeio o ritual, embora lhe compreenda a necessidade, não há nada como colocar vontades para os próximos 365 no papel contemporâneo que temos em todos os ecrãs que nos circundam, seja na secretária, no bolso das calças ou noutro qualquer aparelho oferecido pelo século XXI. Troquem-se os sonhos pelas resoluções. Ao menos os primeiros ainda possuem vigor no nome, os segundos estão logo mortos à partida — a resolução ainda está para nascer e já se lhe adivinha um epitáfio.
Pois bem, venha ele. O 14. O 2014. Não se acanhem nos pedidos, tão pouco nos anseios. Andem lá. Tomo a liberdade de abrir as hostes.
Que venham, pois então, as viagens, para fazermos de conta que libertamos a mente cheia de sonhos deste maldito corpo cheio de defeitos e mortalidade. Que venham os sorrisos, daqueles que enchem o peito de alívio. Sorrisos, sim, sempre, mas também gargalhadas. Que surjam também os choros, aqueles convulsivos que nos ensinam a compreender o valor da vida bem vivida.
Queremos música. Música capaz de nos mostrar que os nossos dias podiam muito bem ser um filme do Woody Allen com banda sonora à nossa escolha, e com o grau certo de tragicomicidade. Queremos canções e livros e quadros e filmes. Que nos revolvam a alma, que arrebatem os espíritos e incomodem os raciocínios.
Queremos letras também. E números. Letras que façam festinhas ao espírito, desenhadas em cartas e postais que não esperávamos. E números que recheiem talões de multibanco.
Queremos beijos. Beijos à chuva, beijos ao sol, beijos na praia e beijos à lareira. Beijos, afagos e outros amassos, para sabermos que não estamos aqui prostrados de solidão e que, ao menos, valemos um quinhão de qualquer coisa para alguém. Queremos barulhos e silêncios, ronhas e algazarras.
Queremos, obviamente, trabalho. Não apenas um emprego, mas trabalho, daquele que, ao menos, nos iluda de que a nossa querida comunidade não poderia nunca passar sem nós.
Queremos chegar ao último segundo de 2014 muito melhores do que estávamos no primeiro. Na larga maioria das vezes, a vida somos nós que a fazemos, os desejos somos nós que os cumprimos.
Que se lixem as resoluções de ano novo, porque essas ninguém as cumpre ao fim de meia dúzia de dias. Deseje-se, sonhe-se, sem auto-censuras. Eu sou capaz, tu és capaz. Enterra as desilusões e sai p’rá rua. Os votos de hoje são os feitos de amanhã. Mexe-te.
Feliz 2014.