Alan Turing, que decifrou o código Enigma, recebe perdão a condenação por homossexualidade
Rainha atribui perdão póstumo a matemático após uma longa campanha.
Turing desenvolveu uma máquina contra a máquina que usava o código Enigma dos militares nazis alemães. Criou um protótipo em 1940, a que chamou simplesmente Vitória. Três anos depois, essas máquinas interceptavam e descodificavam cerca de 84 mil mensagens por mês, cerca de duas por minuto.
Turing decifrou ainda o código particular usado pelos submarinos alemães que atacavam navios mercantes, algo que, lembra a BBC o então primeiro-ministro Winston Churchill disse ser “a única coisa que realmente me assustou durante a guerra” – estes conseguiram atacar tantos navios que havia o risco muito real dos britânicos não terem o que comer. Interceptando e descodificando as comunicações, os navios conseguiam fugir do perigo submarino.
A sua homossexualidade não era segredo para os mais próximos, apesar de proibida por lei, mas a seguir a uma queixa à polícia por roubo caiu no domínio judicial, ao ser relatada pelo agente responsável pela visita à casa, começando um processo legal. Turing confessou e foi condenado, em 1952, pela relação que mantinha com um jovem de 19 anos. Escolheu um tratamento experimental, a castração química, à prisão. O trabalho de criação de algoritmos para decifrar códigos que ainda estava a fazer foi interrompido, e o matemático afastado da agência de espionagem britânica (GCHQ) onde trabalhava.
Dois anos depois de ser castigado, morde uma maçã envenenada com cianeto no seu laboratório. Há quem diga que a maçã do logotipo da Apple (que já foi das cores do arco-íris) era uma homenagem a Turing, considerado o percursor dos computadores. A morte foi classificada como suicídio, embora muitos, começando pela sua mãe, refutem a conclusão.
Como é que o herói que venceu o inventou o supostamente impenetrável Enigma, e que segundo historiadores permitiu encurtar a guerra pelo menos dois anos, salvando milhares de vidas? Na altura, diz o diário espanhol El País, os homossexuais eram vistos como potencialmente fracos e possíveis presas fáceis nas mãos do inimigo, e Turing seria assim um “risco para a segurança”.
A campanha para o perdão começou já em 2009, liderada por umprogramador informático, John Graham-Cumming. Peritos defenderam então que não era possível um perdão já que Turing foi culpado do que era um crime à altura da condenação. O então primeiro-ministro Gordon Brown fez um pedido de desculpas público, e o caso ficou por aí.
No entanto, o Executivo conservador insistiu, e o perdão foi assinado.
O astrónomo real Martin John Rees, que defendeu a causa na câmara dos Lordes, congratulou-se com a acção mas defendeu que se deveria ir mais longe: “É uma boa notícia mas teria sido ainda melhor se tivesse sido parte de um perdão geral a todos os que têm antecedentes penais pela mesma razão."
Peter Thatchell, activista dos direitos de homossexuais, repeti esta ideia, citado pelo diário britânico The Guardian. “Deve-se desculpa e perdão a mais de 50 mil homens que também foram condenados pela mesma lei por terem tido relações homossexuais consentidas no século XX”, disse.