“Grande poeta do palco, bailarino, coreógrafo, encenador, Alain Buffard nunca deixou de questionar o nosso olhar sobre o humano”, disse a ministra francesa da Cultura, Aurélie Filippetti, que ontem lhe prestou homenagem, elogiando o seu trabalho de “artista comprometido e defensor incansável das liberdades”. As obras de Buffard, acrescentou a ministra, “são frágeis e fortes, violentas e delicadas, e sempre portadoras de sentido”.
A programadora Cristina Grande, responsável do serviço de artes performativas da Fundação de Serralves, onde o bailarino e coreógrafo actuou mais do que uma vez, lembra-o como “um homem muito especial”, um artista “muito lúcido e muito crítico, com uma obra de dimensão política muito forte”, mas também alguém “muito generoso e que gostava de partilhar”.
Buffard esteve pela primeira vez em Serralves em 2003 para apresentar, no âmbito do programa paralelo da exposição Caged-Uncaged, de Francis Bacon, a peça Good Boy (1998), um trabalho no qual reflecte sobre a SIDA e a influência da doença na dança. Good Boy, uma peça que reflecte também o seu encontro com Anna Halprin, tornar-se-á uma obra central na sua carreira, tendo regressado a ela várias vezes para criar novas coreogreafias, como Good For… (2001) ou Mauvais Genre (2003), um dos seus trabalhos em que colaborou a coreógrafa e bailarina portuguesa Vera Mantero.
Em 2009, Buffard esteve novamente em Serralves, no Porto, por ocasião da apresentação de Parades & Changes, a reencenação de Anne Collod da pioneira peça que Anna Halprin criou nos anos 60 e que foi banida nos EUA. Além de ter dançado, Buffard apresentou também, na mesma ocasião, o seu filme Lunch With Anna, de 2004, testemunho do seu encontro com a coreógrafa Anna Halprin.
Alain Buffard, que trabalhava desde 2010 com o Théâtre de Nîmes, como artista associado, nasceu em Morez, no leste de França, em 1960, e iniciou-se na dança em 1978, como aluno do coreógrafo americano Alwin Nikolais no Centre Nationale de Danse Contemporaine de Angers. Nos anos 80 trabalhou com coreógrafos como Brigitte Farges, Daniel Larrieu, Régine Chopinot ou Philippe Decouflé, tendo assinado a sua primeira coreografia, Bleu Nuit, em 1988.
Trabalhou depois numa galeria de arte contemporânea, e também como crítico de arte, antes de regressar à criação coreográfica no final dos anos 90, com Good Boy. A sua obra mais recente é Baron Samedi (2012), uma peça que associa a figura homónima da tradição voodoo ao universo musical de Kurt Weil.